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Na semana passada, os níveis baixos dos reservatórios das hidrelétricas quase levaram a questão do fornecimento de energia ao País de volta à arena política. O tema já havia sido peça importante na eleição presidencial de 2002, quando os apagões ocorridos durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso serviram de munição a favor do PT de Lula. Agora viria o troco. Vendo se formar uma onda de previsões catastrofistas, o governo precisou entrar em campo para desmentir que o País está às vésperas de uma crise energética. A presidenta Dilma Rousseff chamou os principais órgãos do setor para uma reunião e pediu ao ministro Edson Lobão, de Minas e Energia, explicações concretas sobre o cenário. Ficou convencida de que o risco de racionamento é uma hipótese muitíssimo distante, mas cobrou respostas mais rápidas aos problemas detectados. As conclusões da reunião foram claras. Apesar de o nível dos reservatórios ser o pior registrado nos últimos dez anos, ainda há planos estratégicos capazes de gerar suprimentos de energia e afastar o País do apagão. Por enquanto, o racionamento, como o que ocorreu em 2001, é considerado apenas um fantasma que, vez por outra, volta a assombrar as autoridades e a população.

O governo tem repetido que confia na capacidade do sistema elétrico para suportar a falta de chuvas. A previsão de crescimento da reserva de energia é considerada pelo Palácio do Planalto como a garantia de que não há uma crise energética iminente. Segundo o ministro Edson Lobão, a reserva atual de energia é de cerca de 121 mil megawatts e a estimativa é de que passe para 130 mil megawatts até o fim do ano, por conta das usinas que estão em construção e devem ficar prontas ainda este ano. Um cenário bem diferente de 2001, quando houve o apagão e a reserva energética era de apenas 70 mil megawatts. “A possibilidade de haver crise energética e o País entrar em racionamento não existe. Ainda há muita reserva, há obras que serão aceleradas para garantir a oferta e outras estratégias emergenciais que poderão ser usadas antes de haver uma crise”, assegura Lobão.

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TENSÃO NA LINHA
A presidenta Dilma Rousseff cobrou respostas rápidas
do ministro das Minas e Energia, Edson Lobão

Entre os planos emergenciais ainda não utilizados está o uso da capacidade máxima da energia térmica, a utilização de gás e a expectativa de que, se as chuvas se intensificarem, será possível aumentar os níveis dos reservatórios antes de abril e reduzir o uso das usinas térmicas, que têm um custo mais elevado para gerar energia do que as demais. Os níveis mais alarmantes dos reservatórios são os observados nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, com a capacidade de apenas 28,5% do total. No Nordeste, que viveu a pior seca dos últimos 50 anos, os níveis médios de reserva nas hidrelétricas são de 30%. No Norte e no Sul, o índice é de 40%.

 

Para especialistas, os desafios para evitar uma verdadeira crise energética são muitos, mas o monitoramento diário e as reservas do Brasil contribuem para tornar o cenário mais favorável. Na avaliação do professor de engenharia elétrica da Universidade de Brasília (UnB), Rafael Shayani, as possibilidades de recuperação dos reservatórios e os planos emergenciais do governo mostram que ainda não há um problema real a ser resolvido. “Há um alerta preventivo, mas existe tempo hábil para a adoção de medidas que garantam o abastecimento e afastem o racionamento”, diz. Mesmo assim, a presidenta Dilma tem acompanhado pessoalmente o resultado do monitoramento diário do sistema elétrico. Além de evitar o apagão, a equipe do Planalto precisa garantir o desconto na tarifa de energia elétrica de 20% prometido pela presidenta, mesmo se a hidrologia ficar desfavorável. Dilma refuta as previsões de especialistas de que uma das conse­quên­cias negativas do uso de termoelétricas pode ser justamente o reajuste de cerca de 3% na conta de energia dos brasileiros. Nos últimos dias, a presidenta deu ordens aos auxiliares para garantir a manutenção do desconto em sua totalidade, e impedir, a todo custo, um racionamento energético que atrapalhe os planos de crescimento do País.

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