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FOTOGRAFADO
Braga diante de uma ruína em Atenas, na Grécia:
carreira diplomática e gosto pelas viagens

O escritor capixaba Rubem Braga (1913-1990), cujo centenário de nascimento é comemorado no sábado 12, é tido como o pai da crônica moderna brasileira. Sua atividade, no entanto, não se reduz à de brilhante comentarista do cotidiano e autor de 15 mil textos marcados pelo humor e pela leveza. Em Vitória, no Espírito Santo, a exposição “Fazendeiro do Ar”, reunindo o acervo guardado há duas décadas por sua família, revela um artista que não se dedicava exclusivamente às letras. Em fotos, documentos, caricaturas e autorretratos inéditos, o que se vê é um criador de facetas desconhecidas. “Poucos sabem, por exemplo, que ele escrevia poesia”, diz o também cronista e jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, curador da mostra que viajará depois por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. “Ele se destacou como um grande fotógrafo, além de fazer caricaturas e desenhos do seu dia a dia”, diz o coordenador da exposição, Robson Outeiro.

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FOTOGRAFANDO
Vista do rio Itapemirim, no Espírito Santo, feita pelo
cronista, que tinha câmeras profissionais

Os organizadores garimparam documentos nunca revelados de Braga, como a sua carteira de identidade expedida em árabe, lembrança dos tempos em que foi embaixador do Brasil no Marrocos, nos anos 1960 – a cerimônia de entrega das credenciais ao rei marroquino está registrada no segmento “Diplomata”. Também serão mostrados, em primeira mão, retratos do cronista feitos por alguns de seus amigos, como os pintores Candido Portinari, Clóvis Graciano, Carybé, Carlos Scliar e o compositor Dorival Caymmi. O gosto de Braga pelas artes plásticas extrapolou a atividade de crítico, prática desenvolvida em jornais gaúchos e em comentários num programa da Rede Globo, quando analisou as obras de Bruno Giorgi, Lasar Segall e Djanira. “Ele chegou a ter uma galeria em Ipanema nos anos 1960, mas não durou muito”, diz Santos. Na exposição podem ser vistos ainda alguns autorretratos, entre eles um bastante curioso, em que se apresenta como anjo.

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AMIGOS
Braga (o segundo da esq. para a dir.), com Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino,
José Carlos Oliveira, Vinicius de Moraes, Otto Lara Resende e Chico Buarque

Em meio às imagens descobertas, há flagrantes do escritor em viagens pela Inglaterra, Itália e Grécia, tal e qual um turista comum, posando diante de ruínas, e o registro de um encontro notável, entrevistando o poeta francês Jacques Prévert em Paris, em 1950. Raras são também as fotos de autoria de Paulo Garcez, feitas na cobertura do escritor, em Ipanema. Nas 12 imagens Braga aparece acompanhado do poeta Vinicius de Moraes e dos escritores José Carlos Oliveira, Fernando Sabino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos – e, surpresa, do compositor e escritor Chico Buarque. Esse ambiente inspirador de conversas e recordações é reproduzido no segmento denominado “Cobertura” e serve de mote para toda a exposição.

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“O título da mostra, ‘Fazendeiro do Ar’, faz uma referência à fazenda que Braga plantou no ar de Ipanema, já que tinha uma roça lá”, explica Santos.

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