Um dos males de que padece o Brasil é o analfabetismo. Conforme dados do IBGE em 2001, 11,4% da população era formada por cidadãos acima dos dez anos que não sabem ler nem escrever. A situação já foi pior: em 1996 eram 13,9%, cerca de 20 milhões de analfabetos. Uma das armas usadas para reduzir esses números nada gratificantes é o Fundef, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério. Formado por uma pequena parte da receita de municípios, de Estados e da União, o dinheiro arrecadado é distribuído para as prefeituras de acordo com o número de alunos matriculados na escola pública entre a 1ª e a 8ª série. Hoje são 57 milhões de alunos nesses cursos, dos quais 87% estão nas escolas públicas.

O dinheiro do Fundef não é pouco: foram R$ 25,2 bilhões em 2003,
e em 2004 estão projetados para ser gastos R$ 28,3 bilhões. Uma dinheirama bastante atraente para a corrupção, outra doença que
assola o País. O repórter Mário Simas Filho, depois de exaustivo levantamento em vários municípios, constatou que parte desse
dinheiro é desviada para fins bem pouco nobres, através de contratos fraudulentos, superfaturados, feitos em mais de 200 cidades e com a participação de vários prefeitos e secretários.

Quando o dinheiro da educação não é desviado, o brasileiro consegue protagonizar casos de sucesso. Pelo menos até certo ponto. Foi o caso de Flávio Ferreira Sant’Ana, menino pobre, filho de um policial militar, que a duras penas estudou, entrou na faculdade e encheu a família de orgulho quando conseguiu se formar em odontologia. Só que Flávio era negro. Confundido pela polícia de São Paulo com um assaltante, foi morto com dois tiros no peito, sem esboçar reação, abatido pelo racismo, outra das mazelas que teimam em nos envergonhar.