O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve lá e foi recebido com honras de “pai da criança”. Ele inaugurou a primeira Expo Fome Zero que se realizou no País (de 10 a 12 deste mês), fez discurso e, por duas vezes, apontou a desigualdade social secular como causa da tragédia da fome. Foi aplaudido e garantiu que o Brasil não precisará recorrer à ajuda externa para combater a tragédia da fome que ele prometeu acabar a partir de seu primeiro dia na Presidência. Foi mais uma vez aplaudido por representantes de empresas públicas, privadas e organizações não-governamentais que levaram à Expo Fome Zero, no Expo Center Norte, em São Paulo, exemplos de suas ações que, independentemente das ações do governo, trabalham por um Brasil socialmente responsável.

Juntos, eles estão conseguindo avançar não só em relação à fome, mas também à educação, nutrição, saúde, cultura, profissionalização. Não tem preço a alegria estampada no rosto enrugado do baiano João Batista Gomes, 64 anos, violeiro desde os 16. Autor de um show de viola inesperado no evento, ele aprendeu recentemente as primeiras letras através de uma ação da Fundação Banco do Brasil no Jardim Ângela, uma das regiões mais pobres de São Paulo. Já sabe escrever seu nome e até dá autógrafo no meio de suas apresentações. Foi um dia de glória para João Batista que, como o presidente Lula – “Deus pôs os pés aqui e falou: ‘Olha, aqui vai ter tudo. Agora, é só homens e mulheres terem juízo que as coisas vão dar certo’”, disse ele em seu discurso –, também acha que Deus lhe deu essa alegria.

Da Amazônia, o show foi do seringueiro Clóvis de O. R. Filho, da Central de Associações do Lago do Capanã Grande, em Manicoré, no norte do Amazonas. Ele mostrou o que os seringueiros aprenderam a fazer com a borracha para ganhar mais dinheiro. Eles agora beneficiam a matéria-prima e, em vez dos R$ 0,70 que ganhavam por quilo de uma massa quase preta, recebem de R$ 2,80 a R$ 3. “Dá pra ganhar de R$ 300 a
R$ 400 por mês, bem melhor do que era antes.”

O que fazer com uma berinjela?
Muitas famílias do sul de Minas estão conhecendo e aprendendo a gostar dessa fruta conhecida como legume
na horta comunitária criada com o
apoio da usina de Furnas Centrais Elétricas. A horta produz o suficiente para abastecer 43 famílias. Tem cenoura, abóbora, verduras variadas e planos de estender o benefício a mais de 200 famílias. Para crianças, a Arno, fabricante de eletrodomésticos, ensina como fazer geléia de casca de laranja, croquetes de talos de beterraba e farofa de casca de banana na cartilha Aprendendo na prática. Fazem parte do projeto cerca de 498 mil crianças. Através de teatrinhos nas escolas, as crianças aprendem receitas práticas utilizando ingredientes descartados pela maioria das pessoas. Sopas prontas, saudáveis e baratas fazem parte de um projeto patrocinado pela Brasilinvest.

A Expo Fome Zero funcionou como uma grande vitrine do que se faz pelo Brasil afora com o objetivo de acabar com o mais dramático problema do País. A Petrobras tem mais de mil projetos focados nas áreas social, ambiental e cultural. Projetos como Posto-Escola, Cidadão Capaz, Telecentros de Inclusão Digital. A Mineração Rio do Norte, uma das líderes mundiais na produção de bauxita, levou para o evento o Projeto Quilombo, que dispõe assistência médica a 1.500 pessoas de comunidades remanescentes de quilombos, e o Programa de Combate à Malária, que reduziu a incidência da doença de 1.126 casos para 27 ao ano. A Coca-Cola mostrou o projeto Prato Popular, que fornece uma refeição por R$ 1. Já funciona em Porto Alegre.

No cardápio do evento que reuniu 138 empresas há de tudo, do esforço social e reconhecido do Instituto Criança é Vida, que em 2003 assistiu
na área de saúde 22,7 mil crianças, à Embrapa, empresa que, entre muitas outras ações, desenvolveu o sistema de fossa biogestora,
capaz de transformar dejetos do esgoto sanitário em adubo orgânico totalmente isento de germes. Projeto barato e urgente, quando se considera que a falta de água tratada e de esgoto sanitário está relacionada a 75% das internações hospitalares de vítimas de doenças como diarréia, cólera e hepatite.

Quem faz compras no Pão de Açúcar certamente conhece um de seus projetos, o Caras do Brasil, que estimula a economia solidária e o desenvolvimento sustentável de comunidades artesãs de todo o Brasil, oferecendo o canal de distribuição privilegiado de sua rede de supermercados. Trabalhos nas áreas de apicultura, artesanato, reciclagem e comercialização de produtos regionais são exemplos de experiências vinculadas à inclusão social que o Sebrae apresenta. Destaque para o sistema de irrigação de baixo custo, Mandala, que distribui água de maneira uniforme para plantações diferentes.

O melhor do evento, porém, foi a constatação de que o programa
Fome Zero, independentemente das ações do governo, decolou.
Ainda não matou a fome dos 50 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza – ou seja, com fome –, mas acirrou o sentimento
de responsabilidade social e, de alguma maneira, a fórmula da solidariedade do projeto Estudante 10/Fome 0, da Fundação
Universidade do Tocantins. A fórmula é muito simples:
1 meu + 1 seu + 1 dele = 3 para eles.