MASTRANGELO REINO/FOLHA IMAGEM

Boa parte das pessoas que compareceram ao leilão beneficente de bens do megatraficante Juan Carlos Abadía, realizado no Jockey Club de São Paulo na semana passada, estava interessada em fazer um bom negócio e arrematar um produto caro por uma pechincha. Outras, porém, motivadas pelo estranho fascínio que os grandes bandidos podem despertar, só pensavam em adquirir algo que passou pelas mãos do criminoso acusado de matar 300 pessoas na Colômbia e 15 nos Estados Unidos. “Vou contar para os meus amigos”, entusiasmava- se o economista Paulo Mello diante da bicicleta comprada por R$ 7,9 mil. Abadía foi condenado, no Brasil, a 30 anos de prisão por crimes de lavagem de dinheiro, corrupção, ativa, falsificação de documentos e formação de quadrilha.

IBRAHIM CRUZ/AG. ISTOÉ

LIQUIDAÇÃO A Rural equipada com DVD
e tevê de tela plana saiu por R$ 37 mil

Filas enormes, tumulto e muita curiosidade marcaram o primeiro dia do bazar, que começou na terça-feira 8. As vendas se estenderiam até o domingo 13, mas terminaram cinco dias antes, pois quase tudo foi vendido. “Foi um fenômeno sociológico. A compulsão para comprar nos surpreendeu”, diz Lucien Belmonte, presidente da Fundação Julita, uma das instituições beneficiadas. A decisão de colocar à venda os bens de Abadía – que, segundo a polícia americana, tem uma fortuna de US$ 1,8 bilhão – partiu do juiz Fausto de Sanctis e é inédita. “Eu decidi fazer um bazar beneficente para preservar o valor dos bens”, afirma.

Enquanto esteve em liberdade, o colombiano soube como ninguém gastar o dinheiro do tráfico. Na lista de bens apreendidos pela Polícia Federal, televisores de plasma, móveis, quadros, eletrodomésticos, uma coleção de bonecas Hello Kitty e até cuecas. Todos esses itens, mais de dois mil, foram expostos no evento. O leilão, na noite de quartafeira 9, que comercializou os itens mais caros, teve clima de festa. Juntos o bazar e o leilão arrecadaram R$ 1,1 milhão. Mais interessadas nos preços convidativos, algumas pessoas nem ligaram para a procedência dos itens. “Não tem problema, depois eu mudo a cor”, disse o comerciante José Antônio Vieira Santana, logo após arrematar o Jeep Willys vermelho, ano 1969, por R$ 27,8 mil.