Classe-média alta sediada em Long Island, Nova York, a família judia Friedman levava uma vida acima de qualquer suspeita até o patriarca Arnold, famoso professor universitário, ser acusado de pedofilia e consumidor de pornografia infantil. Na esteira, seu filho caçula, Jesse, 18 anos, acabou na prisão, suspeito de violentar crianças na companhia do pai. O caso é real, aconteceu em 1987
e foi mostrado por todos os ângulos em Na captura dos Friedmans (Capturing the Friedmans, Estados Unidos, 2003), de Andrew Jarecki,
que concorre ao Oscar de melhor documentário e tem estréia prevista
em São Paulo na sexta-feira 20. Sem dúvida, é um tema delicado
e difícil de ser esmiuçado. Só que aborda tantos pontos de vista que acaba não chegando a lugar algum.

Tanto é que, ao ser perguntado se Arnold era inocente ou culpado, Jarecki respondeu que não sabia. Disse que seu interesse era muito mais questionar as noções de falso e verdadeiro e também mostrar o processo de desintegração de uma família. Tais objetivos são cumpridos, mas alguns bons caminhos intuídos pelo diretor são simplesmente deixados no meio da história. Um exemplo é o gosto dos filhos pela encenação e o fato de David Friedman, o mais velho, ter virado um palhaço profissional. À parte o assunto polêmico, o que mais impressiona é David ter filmado em vídeo a intimidade e todo o calvário da família, fornecendo um rico material de imagens para o documentário, que ganhou uma aparência de reality show macabro.