Há tempos, a febre do samba funk contagia o País com seu balanço sensual enquanto a bossa nova digital inspira os mais badalados lounges do planeta. Mas a receita explosiva que vem embalando a vida noturna carioca é temperar as rimas agressivas do rap com a empolgação da batucada brasileira nas trilhas de clubes como o Melt, o El Turf e o Ball Room. Mudaram-se os ingredientes, no entanto a fórmula é a que consagrou Jorge Ben Jor e seu original samba rock na década de 1970. Além de hipnotizar os baladeiros com movimentos precisos e inusitados, os percussionistas que acompanham o complexo tear das pick-ups suavizam a melodia impressionando a platéia, como ressalta Luís Otávio Guinle, líder da produtora de eventos Beach House. “A percussão dá vida própria ao som sintético, e a mulherada adora o batuqueiro.”

Famoso por interpretar canções polêmicas e cheias de duplo sentido, o rapper Marcelo D2 se rendeu ao gingado da batucada e transformou seu som numa roda de samba cheia de surpresas. “É coisa fina, DJ com tamborim”, assinala o músico em uma das faixas de seu álbum solo À procura da batida perfeita. Ele tem razão. Nos seus shows, a moçada fica enfeitiçada com o som do pandeiro da percussionista Layse Sapucahy, que acompanha a trilha do DJ Primo, responsável por sequências improváveis de rap agregado a sambas sutis da linha de Argumento, de Paulinho da Viola. “É uma forma de aproximar não
apenas os fãs, mas os próprios artistas. Qualquer estilo tem um
pouco a acrescentar e essa nova fórmula só me rendeu elogios”,
gaba-se o ex-vocalista do Planet Hemp.

Assim como acontece na banda de D2, os DJs Nado Leal e DudaM e o percussionista Wellington Soares – todos integrantes do AfroRio, grupo precursor da mistura nuclear, e comandantes de várias festas na zona sul carioca – há três anos lançam juntos seus mísseis musicais. “Cada um de nós tem um papel fundamental e o trabalho conjunto funciona para ampliar nossas capacidades profissionais”, ensina DudaM. Estas fusões rítmicas têm atraído um público amplo e eclético, com bandas multiplicando a platéia e agregando perfis opostos e bem variados. Celinho Vidal, gerente do 00, na Gávea, um dos mais badalados clubes noturnos do Rio de Janeiro, acolheu a novidade e se diverte com a curiosidade das pessoas. “É incrível como todos reagem ao som dos tambores. A dança se torna interativa e ninguém quer estar longe da percussão.” Então, caia na gandaia.


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