Exercer papel de coadjuvante em Hollywood dá status até para Oscar.
Mas, na televisão brasileira, o ator
ou atriz tem que mostrar todo o seu talento para, aos poucos, ir saindo da sombra nos enredos. O paulistano Antonio Calloni há anos engorda as tramas paralelas de novelas e minisséries. No entanto, sua presença garante tanto brilho que todos os seus personagens acabam ganhando destaque. Mesmo concorrendo com falas infindáveis de jovens e inexpressivos galãs protagonistas. Considerado um dos melhores da sua geração, Calloni passa estados de desatino, virtudes, tristezas, todos os grandes dilemas da vida com uma interpretação emocionante e sem exageros. Basta observá-lo no papel do lendário jornalista Assis Chateaubriand da minissérie global Um só coração, na qual incorpora
com toda a sagacidade e ironia a personalidade do delirante empresário de comunicação. Para encarná-lo, Calloni escureceu os cabelos, fez bronzeamento artificial e adotou lentes de contato castanhas para esconder os olhos de cor clara que nem ele sabe definir qual é. “Fiz
essas mudanças menos para me fazer de Chateaubriand e mais para me desfazer de Antonio Calloni”, diz o ator filho de italianos.

Como ele empresta integralmente seu corpo ao personagem, conseguiu
se conectar totalmente com a imagem atarracada do nordestino dono
do extinto império Diários Associados. Tanto que, em tempo, os autores Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira decidiram dar mais espaço
a Calloni. Na segunda fase de Um só coração, Chateaubriand será um
dos principais do núcleo masculino. Mas ser ou não ser protagonista, garante o ator, não é a questão. “Quero é me apaixonar pelo papel e trabalhar num ambiente prazeroso. Nada paga isso”, diz ele, que já fez vários protagonistas no teatro e no cinema. Na televisão, nunca. Só
que seus tipos televisivos são tão marcantes que, nas ruas, viram codinomes como Bartolo ou Mohamed, respectivamente interpretados
nas novelas globais Terra nostra e O clone. Neste contexto, beijar a mocinha no final é irrelevante. “Não dou muita bola para esse tipo de vaidade. Honestamente, não é algo que me preocupa. Estou muito feliz com o desenrolar da minha carreira. E, se é para beijar, eu prefiro a Ilse”, diz, referindo-se a sua mulher, a escritora Ilse Rodrigues, com quem tem o filho Pedro, nove anos.

Calloni vive no bairro carioca do Leblon e é feliz na sua simplicidade. Não tem assessor de imprensa, empresário, agente ou qualquer tipo de intermediário. Tudo é resolvido diretamente com ele. Nada de segurança ou aparatos para sair de casa e passear pela cidade. “Não sou celebridade e não me comporto como tal.” O nascimento de Pedro é destacado como momento de conciliação com o mundo. “Através dele, a minha preocupação em relação aos outros aumentou. Não que eu fosse um egoísta, mas ele impulsionou mais qualidade na minha relação com as pessoas.” Autodenominado um “fuçador de religiões”, Calloni é católico por formação e pesquisador do budismo, kardecismo, candomblé e islamismo. “Rezo, converso com Deus e com minha mãe, que já morreu.” Na carreira, a diversidade é uma marca. Além da tevê, do cinema e do teatro, dedica-se à literatura. Já escreveu três livros, cada qual de um gênero: poesia, contos e romance. Obsessivo, leva anos para colocar o ponto final em cada obra. O romance Amanhã eu vou dançar, por exemplo, consumiu uma década.

Nascido no bairro paulistano da Liberdade, Calloni herdou da família italiana a verve passional muitas vezes necessária à profissão. A estréia artística aconteceu no teatro, em 1980. Seis anos depois, veio a televisão, na qual nunca mais parou de trabalhar. Integrou o elenco

fixo do histórico humorístico TV pirata, fez participações em infantis, como

O sítio do Picapau Amarelo

e, a exemplo de Chatô, já encarnou grandes figuras da história, entre elas Karl Marx na peça

A secreta obscenidade de cada dia

– que lhe rendeu um prêmio Molière – e Oswald de Andrade no filme

Os anos 20

, de Roberto Moreira. Certamente não faltarão muitos personagens reais ou da ficção para Antonio Calloni incorporar e lapidar com seu talento.