LULA MARQUES/FOLHA IMAGEM

VITÓRIA Estudantes fazem festa pela licença do reitor Timothy Mulholland, acusado de usar dinheiro público na reforma de sua casa

Os estudantes que invadiram a reitoria da Universidade de Brasília (UnB) fizeram uma pequena festa na quinta-feira 10, com direito a churrasco e muita batucada. Depois de uma semana acampados no prédio, eles receberam uma nota assinada pelo reitor Timothy Mulholland se afastando do cargo por 60 dias. Americano naturalizado brasileiro, Mulholland confundiu gasto público com despesa privada. No apartamento do reitor foram investidos R$ 470 mil em mobília, dinheiro que deveria ter sido aplicado em pesquisas universitárias, através da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec). O Ministério Público Federal denunciou Mulholland por improbidade administrativa. "Entrei na reitoria da UnB na forma da lei e sairei na forma da lei", disse o reitor na terça-feira 8. Dois dias depois, contudo, ele justificou seu pedido de afastamento para garantir "transparência na apuração dos fa- B R A S I L tos a mim imputados". Mas os estudantes querem mais. "É uma vitória parcial", diz Frank Melo, um dos líderes da manifestação. Os estudantes se recusam a desocupar a reitoria enquanto Mulholland não pedir demissão.

As barracas dos acampamentos na reitoria, no entanto, escondem pretensões maiores. Os estudantes começam a deslanchar as articulações para reorganizar o movimento em torno da defesa das eleições diretas para reitores. Na quartafeira 9, começaram a chegar a Brasília estudantes de outros Estados, incluindo São Paulo e Rio Grande do Sul. "Peguei o avião e vim direto para Brasília", diz Rodolfo Mohr, coordenador do DCE da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Os estudantes reunidos em Brasília querem invadir reitorias em todo o Brasil para exigir a volta da paridade (1/3 alunos, 1/3 professores e 1/3 funcionários) na eleição do reitor. Hoje, na UnB, os professores representam 2/3 dos eleitores.

O movimento estudantil da UnB também traz o perigo da partidarização da universidade. A invasão da reitoria foi coordenada por Fábio Félix da Silveira, 22, ligado ao PSOL. A manifestação na UnB também reuniu militantes do PSTU, que, junto com o PSOL, tenta ampliar sua base nas universidades, tradicionalmente um território do PCdoB. A invasão da reitoria da UnB teve a mesma estratégia utilizada pelos movimentos dos sem-terra. Os "personagens" que deram entrevistas foram escolhidos a dedo, em assembléias. Ninguém estranho ao movimento foi autorizado a entrar nas áreas ocupadas e foi escolhida uma comissão de comunicação, com revezamento dos porta-vozes. Também não se respeitou a ordem judicial para desocupação.