Aquele seu amigo mais vaidoso apareceu de repente com a pele lisa e uma expressão mais tranquila? Pode apostar: ele acabou de se submeter a uma aplicação de Botox ou Dysport, as duas marcas de toxina botulínica existentes no mercado que paralisam os músculos e, dessa forma, diminuem as rugas e deixam a expressão com ar jovial. Febre entre as mulheres, a toxina aos poucos está saindo das rodas femininas e tem conquistado cada vez mais os homens. No consultório do dermatologista
Valcinir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Estética, regional São Paulo, o número de homens à procura do tratamento dobrou desde a chegada do produto ao Brasil, há cinco anos. “Hoje, 20% das pessoas que desejam aplicar a toxina botulínica são homens”, garante Bedin.

Mas o objetivo dos rapazes é bem diferente do resultado almejado pelas moças. “A maioria dos homens que aplicam o medicamento é de executivos entre 40 e 60 anos, sobre os quais pesa a exigência do mercado de trabalho de serem jovens e com aparência tranquila”, conta o dermatologista. De fato, em uma época de tanta competição, estar com a aparência mais rejuvenescida pode contribuir para ganhar pontos. Talvez por isso a toxina botulínica esteja fazendo tanto sucesso em Brasília nos últimos meses. Nesta temporada pré-eleitoral, muitos candidatos querem estar bem diante dos eleitores. “Eles desejam ficar com uma aparência mais descansada”, garante Ricardo Fenelon, dermatologista da capital federal. Ele conhece vários políticos que aderiram à febre da toxina, mas não revela os nomes.

Mas a maior diferença entre o tratamento deles e o delas é que muitos homens não assumem que apelaram para o tratamento ou preferem a discrição, enquanto as mulheres, em geral, alardeiam a mudança aos quatro ventos e chegam até a indicar o médico para as amigas. De acordo com a dermatologista Mônica Fiszbaum, de São Paulo, esse comportamento é observado logo na hora de conversar sobre o procedimento. “Os homens querem atenuar o aspecto de cansaço, mas de jeito nenhum perder as marcas de expressão. Já as mulheres não querem que sobre nem uma ruguinha para contar a história”, explica. Mas nem todos eles optam por ser discretos. O editor Luiz Esteves Sallum, 52 anos, por exemplo, não vê nenhum problema em dizer que se prepara para fazer a segunda aplicação da toxina no final do mês. “Sou vaidoso mesmo. Por que não aproveitar os avanços da medicina estética?”, questiona. Sallum já foi vítima de brincadeiras, mas garante que não liga para o preconceito. “Sei que muitos homens reprimem a vaidade por causa do machismo. Eu faço para ficar mais bonito e assumo”, diz.

Um dos maiores receios masculinos, no entanto, é sofrer o
chamado “efeito Jader Barbalho”. O ex-senador nunca assumiu o
uso da toxina botulínica, mas apareceu com a sobrancelha levantada, sem maiores explicações. Segundo a dermatologista paulista Luciana Conrado, esta é uma consequência típica de aplicações malfeitas.
“Esse resultado lembra muito o tipo de aplicação que fazem os travestis para parecerem femininos. Por isso, fica estranho nos homens”,
comenta a médica. Portanto, os homens que desejarem melhorar a aparência com a toxina devem tomar muito cuidado para não sair do consultório pior do que entraram.