ROBERTO CASTRO/AG. ISTOÉ

GOLPISMO Para Devanir Ribeiro, o povo tem o direito de decidir se Lula deve continuar
no Palácio do Planalto

Com um jeito acelerado de falar, comendo algumas sílabas, o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) acende um cigarro e solta uma peculiar explicação para as cheias que estão assolando o Nordeste. "Durante anos, o povo lá rezou para que chovesse, mas não esperava o resultado e acabava migrando para São Paulo", explica. "Aí, Deus atendia, mas como o povo já não estava mais lá, a chuva caía no Sul. Agora, com as políticas sociais do Lula, o povo não sai mais do Nordeste, e Deus está atendendo lá mesmo às suas preces." A tese de Devanir sobre as chuvas nordestinas serve para explicar duas coisas. Primeiro, a convicção do deputado de que a vontade do povo pode tudo, até mesmo fazer chover. A segunda coisa, o acerto, na sua concepção, da administração de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República, e as razões pelas quais ele deveria ficar por mais um mandato. "Eu estou com o povo. Se o povo achar que ele tem que ficar por mais tempo, isso tem que ser respeitado", diz ele.

Aos 64 anos, Devanir, um dos mais próximos amigos de Lula no Congresso Nacional, é o pivô das articulações para fazer com que o presidente permaneça no cargo por mais um mandato. É por conta desse pensamento de Devanir que boa parte do Congresso olha desconfiada para uma emenda constitucional que o deputado propõe e para a qual agora colhe assinaturas. Essa emenda não fala em terceiro mandato; visa, ao contrário, extinguir a reeleição, mas dando mais um ano de mandato ao presidente, aos prefeitos e aos governadores. O problema é que Devanir, ao mesmo tempo, sugere a idéia de um grande plebiscito para discutir todo o seu modelo político. "No fundo, o que eu quero é travar uma grande discussão com o eleitorado, na qual as pessoas dissessem o que querem sobre regime de governo, mandatos, etc.", prega ele. "Qual é o problema de se consultar o povo? O povo tem o direito de manifestar o que deseja. Se o Lula não quiser mais um mandato, basta ele não disputar", raciocina.

A emenda Devanir não propõe esse grande plebiscito, mas como ele não esconde esse propósito e o tema do terceiro mandato começa a ser repetido também por outras figuras ilustres do PT e do governo, como o vice-presidente José Alencar, teme-se que a idéia do plebiscito acabe aparecendo no meio da tramitação da emenda. "Com os votos do PMDB, ele não deve contar", afirma o líder do partido, Henrique Eduardo Alves. A desconfiança chega até ao PT: "Acho que essa não é uma discussão conveniente agora", rechaça o líder Maurício Rands. Alheio à polêmica, Devanir avisa: "Eu vou continuar tentando."