Uma tempestade de dimensões astronômicas tumultuou a superfície do Sol na manhã da segunda-feira 1º. O maremoto estelar produziu ondas gasosas de 350 mil quilômetros de altura e 40 vezes o diâmetro da Terra. Em seu interior, o calor chegava a 60 mil graus Celsius, dez vezes mais do que a temperatura solar habitual. Essa chuva de fogo é extemporânea e desobedece o ciclo natural que prevê explosões em intervalos de 11 anos, quando os átomos que formam essa imensa estrela gasosa que é o Sol entram em fúria e se chocam uns contra os outros.

As imagens da explosão estelar foram captadas pelo Observatório Solar e Heliográfico, uma parceria entre as agências espaciais americana e européia, que estuda os humores do astro desde 1995 para determinar seus efeitos na Terra. “Os ventos produzidos pelas explosões podem alterar a nossa atmosfera, interferindo nas ondas de rádio e nos satélites”, explica o físico Ronaldo Mourão, do Museu de Astronomia do Rio de Janeiro. No furor da semana passada, não houve consequência grave porque as ondas de calor surgiram em sentido oposto à Terra. Os cientistas também registraram os ruídos produzidos pelas explosões. “O Sol emite certo comprimento de onda cujo som não pode ser ouvido no espaço porque não se propaga no vácuo, mas é captado por equipamentos especiais e traduzido para tons audíveis”, conta Mourão.

Esses registros revelaram que a vibração das ondas de gás solar, sob altíssimas temperaturas, produz som semelhante ao de uma guitarra. Os cientistas afirmam que os “dedos” que tocam essa guitarra estelar surgem das regiões mais profundas do astro, onde o calor chega a dez milhões de graus Celsius. Há tempos o som do Universo atiça a curiosidade humana. O astrofísico Donald Gurnett ouviu pela primeira vez ruídos provenientes do espaço em 1962, quando integrou uma missão espacial. Para seus ouvidos, essa vibração soava como música. Desde então, Gurnett grava esses sinais e os converte em sons audíveis aos tímpanos humanos. Uma amostra dessa música, batizada de Sun rings, ou Anéis solares, será executada em agosto pelo quarteto Kronos, na Universidade de Iowa, nos Estados Unidos.

O interesse das agências espaciais em estudar as causas e os efeitos das explosões solares é fazer previsões mais exatas de quando haverá novas tempestades e assim evitar que os seus efeitos danifiquem os equipamentos na Terra ou coloquem em risco a segurança dos astronautas a bordo de estações espaciais. “É uma outra modalidade de previsão do tempo, só que espacial”, explica Mourão. Se no caso do Sol o objetivo é antecipar o futuro, numa outra missão lançada na quarta-feira 3, a Nasa busca informações sobre o passado. Muitas teorias indicam que os objetos celestes têm papel fundamental no surgimento da vida na Terra. A queda de um asteróide há 65 milhões de anos, por exemplo, é a causa mais provável do cataclismo que dizimou os dinossauros.

Num projeto que já consumiu US$ 158 milhões, a sonda Contour
vai recolher dados dos núcleos congelados de dois cometas. Durante quatro anos, os aparelhos acoplados à sonda devem bater fotos e coletar informações sobre a composição química desses astros, considerados verdadeiros fósseis do período de formação dos planetas, há 4,6 bilhões de anos. Ali estão os registros mais primitivos do Sistema Solar. Investigá-los pode ser a chave para decifrar os segredos da origem do Universo.

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