Cada vez que os três integrantes do grupo carioca Hapax sobem num palco, o público de seus shows se prepara para assistir a uma apresentação em três faces que se unem. Uma delas, atemporal, é a sonoridade tirada de estranhas esculturas – ou tótens, como eles preferem –, feitas de sucata. Outra, modernosa, é a da percussão aliada a samples de antigas músicas brasileiras. E a terceira, tão em moda nos anos 60, é a destruição performática das tais esculturas, que podem se transformar em outros objetos. A receita tem feito sucesso no Rio de Janeiro, especialmente no circuito alternativo, onde Marcelo Mac, 22 anos, Ricardo Cutz, 27, e Ericson Pires, 30, os três integrantes do Hapax, são figurinhas carimbadas. Neste clima aparentemente nonsense, a platéia parece ficar contaminada pela subversão sonora.

Tudo começou há cerca de dois anos, no notívago bairro carioca da Lapa, quando a banda tocava sob os famosos arcos, convidando quem quisesse a participar de seus espetáculos informais. “Hoje, o grupo se tornou um conceito sonoro inusitado”, define Cutz. Inusitado também é o figurino do trio. Os três rapazes vivem metidos em camisas amarelas estampadas com o nome Hapax. “É para mostrar às pessoas que elas são parte integrante da multidão, porque a diversidade recusa um rosto. Nosso trabalho passa pela gente, mas não é a gente”, tenta explicar Ericson. Bem…, melhor é ouvir o Hapax e sua salada de beats eletrônicos com samples de entrevistas de Glauber Rocha e músicas de Clementina de Jesus. São criações que têm levado os modernos a verdadeiras catarses sonoras.