Realizar um filme teatral, totalmente passado entre as quatro paredes
de uma casa de campo, e ainda por
cima no inverno, é uma ousadia e tanto, algo sob medida para o Alfred Hitchcock das comédias criminais. Maior audácia ainda é povoar a trama apenas com mulheres. Damas da mais alta casta da dramaturgia francesa, diga-se. Mas o jovem cineasta francês François Ozon, 34 anos e cinco filmes no currículo, conseguiu se sair muito bem ao somar estas extravagâncias em 8 mulheres (8 femmes, França, 2001) – cartaz nacional na sexta-feira 12 –, em cujo elenco destacam-se Catherine Deneuve, Fanny Ardant, Isabelle Huppert e Emanuelle Béart. Não satisfeito, Ozon realizou a proeza de provocar um beijo entre Catherine e Fanny numa cena candidata a cult entre a turma GLS.

Por estes e outros atrativos, a comédia policial e musical fez quatro milhões de espectadores na França, seguindo a mesma trilha de sucesso de O fabuloso destino de Amélie Poulin. Trata-se de mais um daqueles filmes franceses que encantam pelo charme com que a trama leve e divertida vem embalada. Baseado numa peça popular nos anos 70, 8 mulheres tem um enredo bem simples, cheio de clichês a la Agatha Christie. Nos anos 50, na véspera do Natal, o patriarca de uma família de classe média é encontrado na cama, apunhalado nas costas. Os suspeitos? Todos, da sogra mentirosa à cunhada encalhada, da esposa fina e dissimulada à irmã sensual e ferina, das duas empregadas às filhas perversas. Mas a trama policial é o que menos importa quando o espaço se abre ao humor dos segredos de família e ao show particular das atrizes. Show, aliás, levado ao pé da letra, já que cada uma interpreta uma chanson clássica dos anos 50 e 60, revelando um pouco da personalidade de seus personagens.