ALAN MARQUES/FOLHA IMAGEM

“AQUI É O SEU LUGAR” Henrique Alves (à esq.) e Michel Temer fazem a corte
ao governador Áécio Neves

O motivo era banal: a inauguração de um painel fotográfico com cenas dos “momentos importantes do PMDB”. E o local era inadequado: a sala da liderança do partido na Câmara dos Deputados. Mas, como na política se fala através de gestos, a quantidade de caciques que se espremeu na quarta-feira 9 diante do governador de Minas simbolizava a natureza do recado: finalmente ficou público o mútuo jogo de sedução que vinha sendo silenciosamente conduzido entre Aécio Neves e o PMDB.

“Aqui é o seu lugar”, anunciou o senador José Sarney (AP). “Espero que, nas próximas visitas, o senhor não seja um convidado especial tão ilustre, mas seja nosso companheiro”, disse o presidente do Senado, Garibaldi Alves (RN). Aécio não quer, nem pode mudar agora para o PMDB. “Em 2010, poderemos estar juntos numa ampla aliança”, disse várias vezes nessa sua passagem por Brasília.

A estratégia para ele se lançar candidato a presidente da República em 2010 envolve várias etapas. A primeira delas é gastar todas as fichas dentro do PSDB, ao mesmo tempo que constrange e empareda o governador José Serra, de São Paulo. “Ele vai ter de me carregar como se fosse nitroglicerina”, disse ele recentemente a um político. “Com muito cuidado e sem poder errar.” De fato, Aécio ainda não tem apoios suficientes no PSDB para implodir a candidatura Serra, atualmente o nome favorito, segundo todas as pesquisas de opinião. Mas, pela popularidade conquistada em Minas, ele tem condições de dinamitar o governador paulista no segundo colégio eleitoral do Brasil. “Se ele me atropelar, perde Minas”, sugeriu Aécio noutra conversa com aliados.

Essa encruzilhada em que Serra foi colocado dá ao governador de Minas total liberdade de movimentos. Depois de receber várias lideranças do PMDB para conversas reservadas no Palácio da Liberdade, Aécio aceitou o convite do líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves, para o evento da semana passada. Dentro do PMDB, o maior empecilho a essa aproximação era o ministro das Comunicações, Hélio Costa, excluído das negociações em torno do empresário Márcio Lacerda, como nome de consenso de PT e PSDB para a Prefeitura de Belo Horizonte. “Em vez de ficar só resmungando, por que não entra no jogo?”, foi o que Costa ouviu de um dos líderes do partido. Depois disso, coube a ele oferecer o jantar em homenagem a Aécio, na quarta 9, na casa do senador Wellington Salgado (MG). No encontro, admitiu a possibilidade de apoiar a candidatura de Lacerda.

Do ponto de vista prático, a abertura de portas no PMDB oferece a Aécio um plano alternativo para 2010, caso ele não consiga dobrar os tucanos. Nesse caso, ele tem até o dia 2 de outubro do próximo ano para retornar ao partido que seu avô, Tancredo Neves, ajudou a criar. Com a mudança, corre o risco de perder o resto de mandato por infidelidade partidária – mas, se os prazos legais para tirá-lo do cargo não forem cumpridos em seis meses, ele deixará o Palácio da Liberdade para virar candidato ao Planalto, tal como faria se fosse pelo PSDB. E aí, robustecido pelo tempo de tevê e pela capilaridade política do PMDB, poderá encarar José Serra para o maior desafio de sua vida.