O mundo não acabou em 2012, mas chegou bem perto disso, com o mensalão, a CPI do caso Cachoeira, a operação Porto Seguro e uma guerra instalada entre os poderes da República. Apesar de tudo isso, a presidenta Dilma Rousseff não se deixou contaminar por crise alguma e atravessou bem o segundo ano do seu mandato, fechando o ano com aprovação recorde, roçando os 80%. Se as eleições de 2014 fossem hoje, ela estaria reeleita em primeiro turno.

Isso não significa, no entanto, que o jogo já esteja ganho. Começa agora o segundo tempo, com vários adversários – e até mesmo aliados – tentando miná-la. O candidatíssimo Eduardo Campos, do PSB, afirma que os primeiros 90 dias de 2013 serão cruciais para prever como será a segunda metade do governo Dilma – se com ou sem crescimento econômico. O principal nome da oposição, Aécio Neves, também constrói seu discurso pela economia, apontando a incerteza regulatória e lentidão dos investimentos em infraestrutura.

No Brasil de hoje, não se pode falar em crise econômica com um desemprego tão baixo, na casa dos 5%. O bem-estar acumulado nos últimos anos dá ao governo Dilma uma certa gordura para queimar, mas não será confortável enfrentar uma eleição presidencial com uma média de crescimento medíocre, entre 1% e 2%. É preciso acelerar – e Dilma sabe disso.

Na viagem à Rússia, onde completou seus 65 anos, ela pediu um presente aos empresários: investimento, pois é justamente a taxa anêmica desse indicador que tem segurado o crescimento brasileiro. Dilma acerta no diagnóstico, mas tem esquecido uma palavrinha mágica e essencial nos seus discursos: lucro. Afinal, os empresários só investem quando a equação risco-retorno oferece a perspectiva de lucros futuros.

Na cruzada para reduzir o custo Brasil, Dilma já atacou as margens do setor financeiro, das montadoras e das empresas elétricas, ganhando pontos junto à população. Mas talvez seja este o momento de reequilibrar a balança. Até porque, nessa mesma viagem à Europa, o ex-presidente Lula, conselheiro de Dilma e seu eventual substituto em 2014, falou a linguagem que os empresários gostam de ouvir, ao se dirigir a um seleto grupo de pesos-pesados. “Se algum dia eu vier a ser candidato, espero que todos vocês votem em mim, porque nunca ganharam tanto dinheiro como no meu governo”, disse Lula. E ele tem faro político.