chamada.jpg
AFINADOS
O presidente da França, François Hollande, e o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, apresentam fórmula semelhante para combater a crise

O receituário de combate à crise econômica que se alastra pelos países da União Europeia parecia fadado a um único remédio: a austeridade fiscal. A líder da nação mais rica do bloco, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, prescrevia sem restrições um amargo tratamento. Demandava cortes nas contas públicas, revisão de benefícios sociais e maior rigor fiscal em troca de socorros financeiros aos colegas vizinhos com os caixas à bancarrota e em dificuldade para encontrar interessados em suas elevadas dívidas. As decisões, no entanto, festejadas pelo mercado financeiro, geraram ondas de manifestações nos países do bloco, como greves gerais contra os atuais governantes. Foi em meio a um desses levantes de descontentamento que os franceses elegeram para presidente aquele que personificaria o anti-Merkel, o socialista François Hollande. Eleito em maio, Hollande passou a pregar no continente o modelo já aplicado no Brasil – com o ministro da Fazenda Guido Mantega à frente – do Estado como indutor do crescimento.

IEpag96a98Economia-3.jpg
PROTESTOS
Na Espanha, diante do aumento do desemprego,
a população organiza manifestações contra o ajuste fiscal

Em atos e discursos, o líder francês lembrou que um perigo tão real quanto o alto endividamento será uma duradoura recessão econômica. “Chegou a hora de oferecer uma perspectiva para além de austeridade”, declarou Hollande. “Se a economia da Europa não respirar um pouco de vida, as medidas de disciplina orçamentárias não vão funcionar”, disse. Em contraposição à chanceler alemã, François Hollande passou a cobrar a criação de um fundo comum para ajudar os países da zona do euro em dificuldade, além de garantir um acordo para supervisionar o sistema bancária da região e a aprovação um plano de ajuda à Grécia. Colocou na pauta também a necessidade da criação de mecanismos governamentais de apoio à geração de emprego e renda. Entre eles, a concepção do Banco Público de Investimento (BPI) da França, para superar o período turbulento. Se antes o Estado era visto apenas como um fardo a ser custeado, agora ele se mostra uma ferramenta necessária para a Europa ultrapassar a crise.

IEpag96a98Economia-1.jpg

Apesar de um aparente ambiente de cordialidade na Europa, os dois líderes – Hollande e Merkel – travam nos bastidores uma espécie de queda de braço. O Brasil, com a experiência de quem já sofreu com o receituário ortodoxo e dribla a crise com forte estímulo estatal comandado por Mantega, tratou de manifestar apoio público aos rumos adotados pelo governo francês. “Temos assistido aos enormes sacrifícios por parte da população dos países que estão mergulhados na crise: reduções de salários, desemprego, perda de benefícios”, declarou a presidenta Dilma Rousseff em recente ida à Europa. “Nós já vivemos isso. O FMI impôs um processo que chamaram de ajuste, agora dizem austeridade. Tínhamos de cortar todos os gastos. Esse modelo levou a uma quebra de quase toda a América Latina”, comentou. Dilma, assim como Hollande e Merkel, sabe que uma recessão prolongada na zona do euro teria reflexos incalculáveis na economia mundial.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Fotos: Stephane LAVOUE / PASCO; Adriano Machado/ag. istoé; Andres Kudacki/AP Photo


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias