Carlos Vergara: A Dimensão Gráfica/ Museu de Arte Moderna, RJ/ até 14/3/10
Gérard Fromanger: A Imaginação no Poder/
Museu de Arte Moderna, RJ/ até 31/1/10
Robert Rauschenberg/ Instituto Tomie Ohtake, SP/ de 16/12 a 21/2/10

O foco no mundo mediado pela grande imprensa, pela publicidade e pelos cartazes comerciais fez da arte pop o movimento mais popular da história da arte ocidental. Mais que um movimento, o pop é uma atitude que surge no começo dos anos 60, concomitantemente em Nova York, Londres, Paris, Milão, Los Angeles, São Paulo e no Rio de Janeiro, em reação à hegemonia da pintura abstrata e como crítica à sociedade de consumo. Na França e no Brasil, surge sob o nome de nova figuração. Nos EUA, seus artistas eram inicialmente conhecidos como novos realistas ou neodadas, mas a palavra pop logo se impôs. “A palavra pop é mais hollywoodiana do que histórica”, declarou o americano Robert Rauschenberg, que a partir da quarta-feira 16 terá 98 obras expostas em São Paulo. As nuances da atitude pop podem ser ­discernidas nas individuais de Rauschenberg, em São Paulo, do brasileiro Carlos Vergara e do francês Gérard Fromanger, no Rio.

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MUNDO MEDIADO Imagens apropriadas da grande imprensa na obra de Rauschenberg

 A fotografia e a gravura dois meios de reprodução de imagens em escala massiva são mecanismos centrais da atitude pop. Nas “Combine Paintings” de Rauschenberg, a fotografia é apropriada de reportagens jornalísticas geradas diariamente pela imprensa e transferidas para a tela em processos acumulativos de impressões em silk-screen. Em Vergara e Fromanger, a câmera fotográfica funciona como caderno de notas para futuros desenhos e pinturas. Ambas no MAM-RJ, as exposições de Vergara e de Fromanger são uma boa oportunidade para conferir que tipo de diálogo se trava entre as novas figurações brasileirae francesa, embora as mostras não se limitem a obras dos anos 60. Em ambos os contextos, nota-se um misto de crítica e elogio ao pop. “Eles têm em comum uma mesma contaminação pop, só que atravessada por um tônus político distinto da vertente americana”, aponta Luiz Camillo Osório, curador do MAM.

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CULTURA POPULAR  O Carnaval é tema da obra de Vergara

A exposição de Vergara tem como fio condutor obras gráficas, realizadas em papel ou tela ao longo de quase 50 anos. São monotipias, gravuras, desenhos e composições em 3D que atestam a importância que a fotografia teve em toda a sua trajetória. O uso da fotografia como matéria-prima denota o interesse que o artista sempre teve na vida pública brasileira. “Não havia só as questões políticas da época, mas também as questões existenciais de um pós-adolescente, ligadas à mudança de comportamento da sociedade”, diz Vergara. Logo o Carnaval se tornaria seu grande tema, arena de reflexões sobre os rituais de passagem, a tradição popular na vida brasileira, o anonimato e a identidade nas cidades. Um dos pontos altos da exposição é “BR1”, desenho em rolo de 20 metros de papel, apresentado na Bienal de Veneza de 1980, com texto de outro artista carnavalesco: Hélio Oiticica. Embora Vergara considere que sua obra sobre o Carnaval nunca tenha sido bem assimilada, esse núcleo de obras produz um contundente comentário político sobre a capacidade de o brasileiro driblar com a alegria o controle da ditadura militar.

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CULTURA POPULAR  comércio é manipulado por Fromanger

Fromanger tece seu comentário social através do trabalho com a cor. A pintura, para o artista francês, é uma forma de remarcação de territórios. Na série “Album le rouge”, dos anos 60, ele escorre a tinta vermelha de bandeiras das superpotências, manchando com a cor da guerra as fronteiras geopolíticas. Movido pelas manifestações de maio de 68, começa a produzir nos anos 70 uma série de pinturas a partir de fotografias tiradas nas ruas da capital francesa. Nesse trabalho inverte a ordem de valores da sociedade capitalista, deixando os cartazes publicitários em preto e branco e colorindo a população anônima das ruas. Fromanger é um artistadas fronteiras, aproximando em seu trabalhoo comentário social na nova figuração e uma poética de trânsitos e deslocamentos.

 Gérard Fromanger

Robert Rauschenberg

Carlos Vergara