Não existe nada mais nova-iorquino do que o táxi amarelo. São tantos e tão onipresentes no cenário da cidade que basta levantar o braço que um deles para ao seu lado. Na primeira cena do filme “Nova York, Eu Te Amo”, que estreia na sexta-feira 18, dois homens esbaforidos levantam a mão ao mesmo tempo e, táxi parado, ocupam o banco de trás do veículo. Um vai para o Brooklyn. Surpresa: o outro também. Decidem, então, dividir a corrida. Mas discutem tanto sobre o melhor trajeto que o motorista indiano (é sempre um indiano) os expulsa do automóvel. “Nova York, Eu Te Amo” é a nova produção da bem-sucedida série “Cities of Love”, que estreou com o episódio “Paris, Te Amo”. Cada um desses filmes é composto por dez histórias dirigidas por dez cineastas e com dez minutos de duração ou seja, cada produção tem 100 minutos, tirando as cenas de transição. O enredo gira em torno do amor. E histórias de amor é o que não falta nas grandes cidades.

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“Nova York, Eu Te Amo” Emoção com Olivia Thilrby e Anton Yelchin

Os casos amorosos contados em “Nova York, Eu Te Amo” são os mais surpreendentes. Fiquemos apenas com alguns. Aquele, por exemplo, em que um farmacêutico da região do Central Park pede a um jovem para levar a sua filha paraplégica a um baile de formatura. A noite acaba com uma indescritível cena de sexo em um parque. Outra história interessante mostra o ator Ethan Hawke tentando seduzir uma mulher nas ruas do Soho. Ele é tão inventivo em seus argumentos que não percebe o óbvio: a mulher é uma prostituta. Criado pelo produtor francês Emmanuel Benbihy, esse formato de filme tem regras específicas que cada um dos dez diretores tem de seguir. Eles têm apenas dois dias para filmar a sua história e, como são dez pequenas equipes trabalhando em uma mesma cidade, a operação se complica. “Filmamos dois segmentos por semana durante um mês e meio. Cada segmento com um diretor e um elenco diferentes. Isso, somado às cenas de transição, nos deixa pouca margem de erro”, diz Joshua Skurla (produtor de “Rio, Eu Te Amo”), que está no Brasil cuidando dos detalhes do novo filme da série “Cities of Love”.

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“Paris, Te Amo” Aventura com Natalie Portman e Melchior Belson

Dois diretores já confirmaram a sua participação no filme brasileiro orçado em US$ 13 milhões, que começa a ser rodado em julho de 2010: José Padilha e Fernando Meirelles. “O bom de projetos como esse é que todos se envolvem pelo prazer de fazer um bom trabalho, o que certamente cria um ótimo clima no set”, diz Meirelles, que ainda não escreveu seu roteiro. “Não precisa ser uma história de amor entre um casal. Pode ser o amor entre irmãos, de um velho por uma árvore, de uma gaivota por uma tainha ou mesmo de alguém pela cidade.” Uma das melhores histórias de “Nova York, Eu Te Amo” vale-se dessa liberdade mostra a afeição de uma cantora de ópera aposentada (Julie Christie, ótima) por um mensageiro de hotel corcunda (referência à ópera “O Rigoletto”, de Giuseppe Verdi), belamente interpretado por Shia LaBeouf. Foi escrito por Anthony Minghella, que morreu antes de o filme ser rodado.

De olho no sucesso, projetos similares se espalham pelas metrópoles de todo o mundo. É o caso de “Tokyo!”, em cartaz no Brasil, com episódios dirigidos por Leos Carax, Michel Gondry e Joon-ho Bong. De Xangai, onde está negociando com “três grandes diretores chineses” a participação em “Xangai, Eu Te Amo”, Emmanuel Benbihy acusa a equipe japonesa de se inspirar em seu formato (que ele levou dez anos para desenvolver) e de aplicá-lo de forma totalmente equivocada. “Nossos filmes envolvem mais diretores e todos seguem
regras comuns e respeitam o propósito de criar uma unidade na diversidade”, diz ele. Uma diversidade, aliás, que privilegia o dado multicultural do globalizado mundo dos dias atuais.

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Cidades que amamos

O produtor Emmanuel Benbihy, criador da franquia “Cities of Love”, falou com exclusividade à ISTOÉ Online

Leia, abaixo, a íntegra da entrevista que o editor de Cultura, Ivan Cláudio, fez com o produtor francês Emmanuel Benbihy, criador da franquia "Cities of Love". Benbihy concedeu esta entrevista direto de Xangai, onde está para a produção do seu novo trabalho: "Xangai, Eu Te Amo".
 
Você poderia adiantar alguns diretores dos filmes sobre Xangai e Jerusalém?

Estes dois filmes virão depois de “Rio, I Love You”. Ainda não definimos os diretores. Mas eu fecheei um contrato de exclusividade com a CAA para fazer o “Xangai, I Love You”, com grandes talentos internacionais, incluindo três diretores chineses.

O formato de Cities of Love já existia (por exemplo, em "Paris vu par…" e "New York Stories"). Porque só agora vem dando resultados?

Se você analisar atentamente, nossos filmes são diferentes. Os outros filmes são feitos por vários diretores, mas, na verdade, são completamente diferentes entre si. Nossos filmes envolvem mais diretores que realmente seguem algumas regras em comum, as tomadas são mais curtas. Nossa intenção é criar uma unidade com diversidade, usando transições e personagens recorrentes.
 
A influência de  " Cities of Love "  está presente, por exemplo, em "Tokyo!", com filmes de Leos Carax e Michel Gondry. Você concorda?

“Tokyo” foi produzido por um grupo de pessoas que estavam familiarizadas com “Paris, je t’aime”: Algumas dessas pessoas, inclusive, haviam trabalhado com o diretor Nobuhiro Suwa, em Paris. Eles fizeram como tantos outros, que não entender como se produz filmes como os nossos. Nossas produções têm um foco muito específico e exigem uns 10 anos de trabalho duro.

A cada trabalho seu, a estrutura do filme fica melhor. As "ligações" dos episódios de  "Nova York, Eu Te Amo" são melhores. A que você atribui isso?

Em relação a “Paris, Eu Te Amo”, “New York, Eu Te Amo” está mais próximo do objetivo original da franquia “Cities of Love”. É um filme coletivo que transcende hábitos e convenções na medida em que nós tentamos explorar novas formas de narrativa. Nos últimos anos, temos testemunhado o crescimento de um movimento que questiona os estilos narrativos clássicos. As unidades de lugar e ação são quebradas, os pontos-de-vista multiplicados, a cronologia fragmentada e entrelaçada, a realidade partida, dependendo da variação da percepção dos personagens principais. Como vimos em filmes como “Magnólia”, “Crash”, “Amores Brutos”, “Réquiem para um Sonho” e outros, a audiência responde de forma muito contundente a esse tipo de narração. Narrativas desconstruídas estão muito próximas da nossa experiência de vida. A diversidade de diretores em “Nova York, Eu Te Amo” garante perspectivas múltiplas. Em “Paris, Eu Te Amo” nós também produzimos transações entre os personagens, mas tivemos de cortá-las. Se não fizéssemos isso, ele teria ficado com cerca de 2 horas e meia, o que é muito para uma antologia.    

Os diretores de  "Nova York" são de culturas bem diversas (India, Turquia, Japão). O multiculturalismo é uma marca da franquia?

Definitivamente. Nós temos um compromisso muito forte com a diversidade. Nossos filmes não são apenas produtos: são ações afirmativas. Diretores, roteiristas e artistas de todos os continentes são capazes de trabalhar no mesmo filme, que é uma unidade sólida. Do ponto de vista estritamente comercial, filmes competem nas bilheterias. Nesse jogo, algumas culturas são mais representadas do que outras porque têm mais apelo comercial, poder e técnica. Nós achamos que todas as culturas devem coexistir no meio cinematográfico e não devemos anular nenhuma delas. Encaramos o cinema como um meio para a paz e a diversidade cultural.