Carlos Garaicoa – Revolta, Batalha, Mudança/ Galeria Luisa Strina, SP/ até 2/2/13

chamada.jpg

Há dois tipos de artistas engajados com as cidades. Há artistas da rua, que tentam criar novos circuitos de comunicação no espaço urbano. E há os artistas que tomam como desafio reconstruir a rua dentro dos espaços protegidos da galeria ou da instituição de arte. Esse é o caso do cubano Carlos Garaicoa, que toma como desafio “pensar formas de representar a cidade, que não sejam a arquitetura”. Em seu trabalho mais recente, em cartaz na galeria Luisa Strina, em São Paulo, ele leva para o interior da galeria imagens das calçadas de Havana, que estampam nomes de estabelecimentos comerciais dos anos capitalistas da capital cubana.

“Revolta, Batalha, Mudança” é uma exposição inteiramente realizada sobre o chão da galeria. São seis tapetes em que Garaicoa recria fragmentos de calçadas e dois vídeos em que o artista registra suas caminhadas ilustradas. “O projeto começou em 2006, andando pela cidade de Havana e observando os títulos de lojas dos anos 1940 e 1950, sempre muito sugestivos, a partir dos quais dá para inventar todo um mundo”, diz o artista.

01.jpg
HAVANA
Calçadas da cidade são interpretadas nas tapeçarias de Garaicoa

Os textos das calçadas não são simplesmente reproduzidos, mas sim ampliados e ficcionalizados pelo artista. A partir da loja La Fortuna, Garaicoa criou o texto “La Fortuna de los Hombres es El Infortunio de los Hombres”. Ou a partir da sigla RBM, grafada em padrões decorativos e burgueses, o artista criou uma tapeçaria que estampa as palavras “revolta”, “batalha” e “mudança”, que dão título à exposição.

Na duplicidade de sua mensagem, Garaicoa não dá conta apenas da história de Cuba – que guarda no chão gasto da cidade as marcas de um passado de fartura e desigualdade social. No requintado trabalho dessa tapeçaria, ele fala também das contradições do sistema de arte, que oscila entre a subversão e as concessões ao dinheiro.