No melhor estilo Muhammad Ali, que se deixava imprensar nas cordas com a guarda baixa para velozmente dar um drible de corpo e voltar saltitante ao centro do ringue aplicando golpes demolidores, o ex-presidente Lula retomou seu papel de protagonista na política brasileira.

De um momento para o outro, em Paris, com apenas uma frase dentro de um discurso, Lula se esquivou, bem ao seu modo, da saraivada de ataques envolvendo acusações de corrupção sobre ele próprio, lançadas pelo publicitário Marcos Valério em depoimento à Procuradoria-Geral da República e com repercussão geral entre os políticos. Para se livrar dessas bordoadas, bastou-lhe lembrar que pode ser candidato a presidente outra vez. A luta mudou.

Quando fala em retomar as Caravanas da Cidadania, com as quais percorreu o Brasil mais de uma vez num ônibus que arrastava atrás de si toda a mídia nacional e enorme atenção no estrangeiro, Lula machuca seus adversários onde mais dói, no voto. É seu movimento pela democracia direta, praticada no corpo a corpo com os brasileiros que vivem muitas camadas sociais abaixo da elite. Nada a ver com explicar-se sobre os pontos centrais das denúncias, mas uma saída para a frente, dentro das regras, que cria não apenas um fato político poderoso, mas também revela a sua estratégia de defesa institucional. Enquanto os adversários querem vê-lo pelejar nas sombras da Justiça, Lula disse que escolhe a luz das vias públicas como melhor terreno para bater sem ser atingido. É a sua volta ao lugar de origem.

Ao quebrar um longo silêncio, Lula disse exatamente o que os adversários mais temiam. O efeito colateral que poderia lhe ser nocivo com a pré-candidatura – o de despertar ciúmes na presidenta Dilma – mereceu uma vacina. Antes de se pronunciar, o ex-presidente se reuniu com a sucessora. Do encontro, sempre em Paris, nasceu a estratégia de Dilma defendê-lo publicamente e não apenas instruir seus principais ministros na mesma ação. A presidenta cumpriu sua tarefa com ênfase e elegância. Terá toda a retribuição de Lula, na defesa de seu governo, durante o mergulho social que ele pretende fazer. O PT, que já parecia nocauteado pelos golpes ao chefe, acordou e igualmente passou a atacar os adversários tucanos com uma lista de Furnas na mão e o mensalão do PSDB na cabeça. Nas redes sociais, militantes dispersos já começam a se reorganizar em torno de slogans do tipo “mexeu com o Lula, mexeu comigo”.  

O ex-presidente, agora sabem todos, está de volta, despertou a torcida e, logo, em suas andanças, levará seu público à euforia. A luta do século entre o establishment e o metalúrgico pau de arara poderá ter, em 2014, mais uma emocionante edição.