A revolução tem que ser feita pouco a pouco – Parte 4: A revolução/ Galeria Raquel Arnaud, SP/ até 21/12 

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Durante uma entrevista recente, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha proclamou que se faz necessária “uma revolução nas metodologias da construção civil, na cidade e na sociedade como um todo”. Tirado de seu contexto, onde se pensavam as dificuldades da questão urbanística e da arquitetura no Brasil, o curador Jacopo Crivelli Visconti expandiu o pensamento do arquiteto levando-o para o campo das artes. Dentro de um programa de mostras especiais proposto pela galerista Raquel Arnaud, durante o ano de 2012, Crivelli Visconti concebeu uma série de quatro exposições denominadas “A Revolução Tem que Ser Feita Pouco a Pouco” que envolveram 16 artistas do Brasil e do mundo. A primeira mostra, realizada entre maio e junho, tratou das estratégias da arte em relação à cópia e apropriação; a segunda foi realizada entre julho e agosto e abordou de que maneira a arte contemporânea expande eventos do cotidiano, dando-lhes uma temporalidade prolongada; e a terceira parte resgatou a prática duchampiana como origem do fazer artístico atual, onde a ênfase é colocada nos processos artísticos e não em produtos acabados.

O objetivo de “Parte 4: A revolução” foi contemplar as propostas de uma arte revolucionária que crie estratégias para a mudança do status quo. Nessa etapa, os artistas Waltércio Caldas e Geórgia Kyriakakis se unem aos diferentes artistas que participaram da série expositiva ao longo do ano, com trabalhos que se alinham em torno da proposta de revolução colocada pelo curador. Para essa conclusão, ele parte do conceito de “desvio”, elaborado pelo teórico francês Guy Debord na década de 1960 em seu clássico livro “A Sociedade do Espétaculo”. O termo equivale a uma estratégia. Para se realizar a revolução, faz-se necessária a apropriação dos discursos e meios de poder dentro do sistema capitalista – poder econômico, poder político e, claro, o poder cultural –, subvertendo seus significados e minando suas forças opressivas. Na mostra, é proposto que tal revolução se dê por meio de trabalhos que invertem essa lógica simbólica, como é o caso da série de desenhos de Mabe Bethônico, “Sem Título-Invisibilidade Mineral” (foto). Para a obra, a artista se apropria de um manuscrito do século XVI, que trata da arte da mineração e da metalurgia, para estabelecer uma relação entre esses ramos profissionais e o trabalho manual, tantas vezes necessário para a feitura de uma obra de arte e tão mal remunerado no sistema capitalista. Nina Gazire 

Fotos: Romulo Fialdini

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