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APRENDIZADO
Instituto da Construção, em São Paulo: há dois anos no mercado,
montou 11 cursos em sete Estados e pretende abrir mais 30 até 2013

Nos últimos anos o Brasil virou um imenso canteiro de obras. Estádios estão sendo erguidos em várias capitais para a Copa do Mundo de 2014, o Rio de Janeiro se prepara para a Olimpíada de 2016 com novos hotéis e melhorias na infraestrutura urbana, rodovias e hidrelétricas começam a sair do papel e lançamentos imobiliários batem recordes em todo o País. Para construir esse Brasil do século XXI, há uma grande necessidade de profissionais da construção civil – 70% das empresas sofrem com falta de mão de obra especializada, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A demanda é tanta que o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), principal órgão de formação de trabalhadores do Brasil, não tem dado conta do recado. De olho nesse filão, instituições privadas de ensino resolveram entrar nesse segmento e agora também se dedicam ao ofício de formar peões de obra. As salas de aula têm atraído tanto operários que já atuam no setor quanto jovens em busca de qualificação profissional para o primeiro emprego.

“O trabalhador da construção civil era o sujeito que não deu certo na vida e, por absoluta falta de opção, entrava no ramo. Esse paradigma está sendo quebrado”, afirma o empresário Miguel Pierre, sócio da Concretta, uma franquia de escolas profissionalizantes que há seis meses decidiu investir na especialização de operários da construção civil. Pierre montou a sede em Brasília e vendeu 18 franquias do seu curso. Atento às novas oportunidades, quer ter 300 unidades próprias ou franqueadas até 2015. A expectativa é faturar R$ 6 milhões anuais.

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ESTUDO
Leonardo Silva fez o curso de pedreiro no canteiro de obras do Maracanã
e a eletricista Ana Cláudia Cabral agora estuda engenharia elétrica

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Outra instituição privada que está lucrando ao moldar o novo operário é o Instituto da Construção. Em dois anos de atividade, organizou 11 cursos em sete Estados e planeja inaugurar mais 30 até o fim de 2013. “Setenta por cento dos nossos alunos já estavam no setor, mas tem muita gente migrando de outras profissões, especialmente mulheres que trabalhavam como diaristas ou na lavoura”, afirma Verônica Moura, gerente de operações do instituto. Wilton Nere da Silva Cunha, 45 anos, se encaixa nesse perfil. Ele era pedreiro 20 anos atrás e largou os canteiros de obra para trabalhar como motorista. Com a antiga profissão em alta, decidiu voltar para a construção civil, mas achou melhor passar pelos bancos escolares para se atualizar. Paga R$ 178 por mês ao Instituto da Construção por aulas nos sábados pela manhã. “Aprendi fazendo, agora estou me especializando”, diz Cunha.

Caminho semelhante seguiu Dorvalino de Sá Marques, 43 anos, que, depois de 25 anos como pedreiro, agora quer o diploma de mestre de obras. “Eu penso no futuro, preciso de qualificação”, diz ele. No quinto mês do curso, Marques está às voltas com cálculos matemáticos de metro cúbico, metro quadrado e sonha em fazer um supletivo para concluir o ensino médio e então poder fazer o curso de técnico em fundação, ofício ainda mais especializado. Os cursos particulares custam entre R$ 130 e R$ 200 por mês e duram de seis meses a um ano. Os mais procurados são de pedreiro, de mestre de obras, instalador elétrico, de alvenaria, assentador, revestidor e técnico em edificações.

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Quem já tem qualificação alça voos mais altos. Leonardo de Araújo Silva, 20 anos, fez o curso de pedreiro no canteiro de obras graças a uma parceria entre o Consórcio Maracanã, formado pela Ode­brecht e pela Andrade Gutierrez, e o Senai. “Quero agora fazer curso de técnico de edificação e continuar estudando. Meu sonho é ser arquiteto”, revela Silva. Sua colega de trabalho Ana Cláudia Cabral da Costa, 34 anos, já está na faculdade. Ela trocou a profissão de analista de crédito pela de eletricista. Começou como ajudante e hoje chefia 15 homens na função de líder de equipe das obras do Maracanã. À noite, ela cursa engenharia elétrica na faculdade carioca Veiga de Almeida. “Eu me encontrei na construção civil”, resume ela.

Foto: Pedro Dias; Masao Goto Filho/Ag. IstoÉ