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REALIDADE Querô, que estréia dia 14, trata da tragédia dos menores abandonados

Quase dez anos atrás, o diretor Carlos Cortez conseguiu autorização de Plínio Marcos para adaptar seu romance Querô – uma reportagem maldita. Apesar de ter sido escrito na década de 70, o livro não poderia ser mais atual: seu protagonista é um adolescente pobre, órfão e filho de prostituta, que vagueia pelo porto da cidade paulista de Santos da polícia, da Febem e dos traficantes de drogas. No dia 14 deste mês, o vigoroso Querô, primeiro filme de ficção de Cortez, chega aos cinemas com troféus conquistados em Brasília e no Ceará. Em novembro, bate nas telas de todo o Brasil O magnata, pelas mãos do estreante Johnny Araújo. A produção é baseada num argumento de Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr. Por trás de Querô e de O magnata está a mesma dupla: os irmãos Caio, 34 anos, e Fabiano Gullane, 36, sócios da Gullane Filmes.

Hoje, eles estão entre os produtores mais ativos do Brasil. Querô e O magnata são seu segundo e terceiro lançamentos de 2007 – o primeiro foi o documentário O mundo em duas voltas, de David Schürmann, sobre as viagens de sua família num veleiro. A produção foi vista por 60 mil pessoas, boa marca para o gênero. "Uma coisa de que gosto dos ‘bros’ (como são conhecidos pelos diretores) é a dedicação na produção e montagem. Fabiano e Caio não desistiram até que o filme estivesse bom", afirma David. Esse é um dos princípios da Gullane Filmes: "Estamos interessados em produções que se aprofundem", diz Fabiano. Não quer dizer que longas estejam descartados. "Mas é preciso ter elaboração, conteúdo, proposta", afirma Caio.

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TELEVISÃO A Gullane Filmes está gravando a minissérie Alice, para a HBO, canal conhecido por apostar na ousadia

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Os Gullane começaram ainda adolescentes. Fabiano tinha 13 anos, e Caio, 11, quando seu pai, professor da Universidade de São Paulo, morreu. "O Caio costuma dizer que a gente é daquela geração que veio sem herança e sem poupança. A gente teve que construir nossa vida", diz Fabiano, que sempre foi apaixonado por cinema. Ele comprou um aparelho de som e de luz para festas até ser convidado para um estágio num estúdio de som. Caio, que se vestia de palhaço ou de caipira para animar eventos, passou a mexer com vídeo. Daí foi um pulo para os videoclipes, vídeos institucionais e curtas. "A gente foi percebendo que tinha o maior jeito para a coisa e que funcionávamos bem juntos", lembra Fabiano. Naqueles tempos incertos após o fim da Embrafilme, o sonho de fazer um longa parecia impossível. Em meados daquela década, no entanto, Caio foi chamado para Os matadores, de Beto Brant, e Fabiano, para Kenoma, de Eliane Caffé. Eles mergulharam de vez na produção de filmes: Castelo rá-tim-bum, de Cao Hamburger, Através da janela, de Tata Amaral, Dois córregos, de Carlos Reichenbach, entre outros.

 

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ROCK’N’ROLL Paulinho Vilhena é o protagonista de O magnata, baseado em argumento de Chorão, do Charlie Brown Jr., que chega aos cinemas em novembro

A primeira grande virada dos irmãos foi Bicho de sete cabeças, sucesso de público e crítica. "Foi ali que a gente passou de bons profissionais do mercado para produtores efetivos", diz Fabiano. A segunda aconteceu quando Hector Babenco chamou-os para coproduzir Carandiru. O longa, exibido no Festival de Cannes e com mais de cinco milhões de espectadores no Brasil, só fez a dupla prestar mais atenção no mercado externo. "Cinema é uma arte globalizada. Fazer filmes que só funcionam no Brasil não é o nosso objetivo", diz Fabiano. Depois, veio a busca pelo crescimento, e O ano em que meus pais saíram de férias (2006), de Cao Hamburger, que competiu em Berlim e foi vendido para 20 países, coroou essa busca, tornando-se o terceiro grande momento dos Gullane.

 

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OS GULLANE Fabiano (à esq.) cuida do levantamento de recursos para as produções e Caio é responsável por fiscalizar o uso do dinheiro

 

O lançamento de O mundo em duas voltas, Querô e O magnata não encerra o ano da produtora, que está gravando a série Alice para a HBO – só a O2 e a Conspiração trabalharam com o canal americano. Paralelamente, rodam dois filmes internacionais: Birdwatchers, coprodução com a Itália dirigida por Marco Bechis, e Plastic city, co-produção com a China sob o comando de Yu Li Wai. Como sempre, eles continuam dividindo o trabalho. Fabiano fica com a captação dos recursos e Caio fiscaliza como eles são utilizados na produção. No primeiro semestre de 2008, lançam duas co-produções brasileiras: Chega de saudade, de Laís Bodansky, e Encarnação do demônio, de Zé do Caixão. Mas eles dizem não quer crescer demais. "A gente nunca vai deixar que o volume de projetos atrapalhe a qualidade", afirma Fabiano.



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