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ORIGEM O cigarro é a principal causa

 

O câncer de pulmão é o que mais mata no mundo. A cada ano, são pelo menos 1,3 milhão de mortes no planeta. O desafio é melhorar esses índices e a qualidade de vida dos pacientes. As mais novas armas para alcançar este objetivo foram anunciadas na última semana durante a 12ª Conferência Mundial de Câncer de Pulmão, realizada em Seul, na Coréia. A primeira delas é a revisão dos critérios usados para avaliar o estágio da doença e determinar se o paciente será submetido à cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou a combinações destas modalidades.

As mudanças têm como base um levantamento feito pela Associação para o Estudo do Câncer de Pulmão com dados de 100 mil pacientes de todo o mundo. Enquanto as diretrizes anteriores valorizavam mais o tamanho do tumor e sua expansão para outras áreas, o novo guia considera, por exemplo, a presença de células tumorais em certos gânglios. Se isso for detectado, é uma indicação de que a doença pode evoluir com mais agressividade. “Nossa expectativa é a de que os dados levem a um melhor entendimento do estágio do câncer e ajudem a definir o tratamento”, afirmou Peter Goldstraw, do Royal Brompton Hospital de Londres, coordenador do trabalho.

Outra nova abordagem é a personalização do tratamento. “Temos de achar a droga certa para o paciente certo”, resumiu Jean Charles Soria, da Universidade de Paris. Isso significa escolher combinações mais eficazes, com menos toxicidade. Nesse sentido, a ciência está dando passos importantes. Um estudo divulgado no congresso mostrou pela primeira vez que um tipo específico de célula tumoral responde melhor a uma droga do que a outras. O trabalho comparou o uso dos quimioterápicos cisplatina e gemcitabina com uma combinação da cisplatina com o remédio pemetrexed em 1.725 pacientes. A conclusão foi de que os pacientes com o tipo de tumor chamado de adenocarcinoma que usaram a segunda associação tiveram um ganho de sobrevida. O medicamento, chamado de Alimta, acaba de ser aprovado no Brasil. “Até então se imaginava que 85% dos tumores tivessem comportamento equivalente diante das quimioterapias. Está provado que são diferentes”, explica o oncologista Stephen Stefani, do Instituto do Câncer Mãe de Deus, em Porto Alegre.

Outra novidade é a introdução de drogas que atingem apenas as células doentes. Nessa linha, um trabalho mostrou que o remédio Erlotinibe (Tarceva, nome comercial) eleva a média de expectativa de vida em 42,5%. Muitas pesquisas também estão sendo feitas para avaliar os efeitos da combinação da quimioterapia com o bevacizumabe (Avastin), que inibe o desenvolvimento dos vasos sangüíneos que nutrem o tumor. No Brasil, porém, pacientes do SUS têm acesso apenas a duas ou três drogas quimioterápicas mais antigas, enquanto os que podem pagar pelo tratamento ou possuem plano de saúde dispõem de pelo menos sete opções. “O governo demorou a olhar para esse problema. Não é a falta de dados técnicos que impede a introdução dos novos remédios, mas a de dinheiro”, lamenta Carlos Gil Ferreira, do Instituto Nacional do Câncer.