comp_high_school_01.jpg

 

As aulas regulares terminaram e as de recuperação estão em pleno curso em alguns colégios. Mas ainda assim a vida escolar está permeada por um assunto que parece não ter fim: o filme High School Musical, dos estúdios Disney. A produção é encenada por jovens atores que cantam e dançam numa espécie de Grease dos tempos atuais. Exibida somente na tevê (13 vezes no canal da Disney, desde a estréia em julho, e uma vez pela Rede Globo, recentemente), ela conquistou crianças e adolescentes de todo o País. E, na semana passada, fez uma infinidade de pais correr às lojas para comprar o recém-lançado DVD.

High School Musical conta a história de um garoto, líder do time de basquete, e de uma menina sabe-tudo que fazem um teste para entrar no musical do colégio. Eles encaram a oposição da família e de amigos, só que no final tudo termina bem, com animadas coreografias e canções do tipo alto-astral. O filme não é nenhum supra-sumo da sétima arte e aborda uma realidade muito diferente da dos estudantes brasileiros. Mas isso não incomoda os fãs. O sonho deles é viver num ambiente semelhante ao dos americanos, com intensa programação fora das salas de aula. É o caso do curitibano Murilo Silva, 14 anos, que entrará no ensino médio no ano que vem. “Seria bom estar num lugar assim”, diz ele. A jovem Karine Sartori, 18 anos, também da capital paranaense, concluiu o ensino médio e reclama da falta de variedade: “Gostaria que houvesse nos colégios mais atividades como clube de teatro. Em geral, quando oferecem, é só balé e time de futebol.” Os dois são mediadores de uma comunidade virtual dedicada ao filme que reúne mais de 60 mil internautas.

Há no Brasil escolas que investem em atividades extracurriculares. Se alguém imaginou que os professores dessas instituições iriam fazer cara feia para o High School Musical, se enganou. Eles descobrem pontos positivos no filme e ressaltam esses aspectos, inclusive na programação cultural e esportiva. Segundo os educadores, ele tem estimulado a garotada a interagir mais com os colegas de sala. “O mais importante no filme é o relacionamento sadio. A música é um recurso que agrega e desenvolve os jovens de modo equilibrado”, diz Neide Noffs, da Faculdade de Educação da PUC de São Paulo. Além disso, a produção tem ajudado os estudantes a se envolverem mais com as atividades da escola. “O filme fortalece o sentimento de identidade com o colégio”, diz Maria Eugênia Rossetti, orientadora educacional do tradicional colégio Rio Branco, em São Paulo. Na instituição, as atividades extracurriculares já tinham boa procura. Mas agora o entusiasmo cresceu. E até uma torcida organizada foi formada para apoiar os atletas do Rio Branco.

comp_high_school_02.jpg

Para intensificar o vínculo com o colégio, professores de diversas escolas trabalharam em classe as mensagens do musical, como o respeito à diversidade e a união em torno de um objetivo – na produção da Disney há um campeonato de basquete e um torneio de conhecimentos científicos, ambos vencidos pelos protagonistas. Também liberaram os estudantes para que criassem durante o recreio apresentações inspiradas no High School Musical – ou HSM, como os fãs costumam dizer. Outros colégios deixaram para as festas de encerramento do ano o espaço para que a garotada exibisse seus dotes. “O envolvimento nessas atividades desenvolve o espírito de equipe. O filme ressalta isso”, diz Adriana Tiziani, coordenadora de cursos extracurriculares do colégio paulista Santa Maria. Lá, as crianças da segunda série fizeram na semana passada uma encenação em inglês. “Vi o filme 13 vezes e conheço as músicas de cor. Eu me apresentei bem na frente”, diz Marcella Cedotti, oito anos. Seu colega Victor Noda, único menino no grupo de 13 estudantes, ficou inibido: “Meu negócio é cantar. Não sou bom de dança.”

 

Como o filme está no auge da moda, fãs antigos têm vivido dias aborrecidos ultimamente. Eles não querem que HSM se transforme num novo RBD, a banda da novela Rebelde. Mas os cantores americanos seguem a mesma trilha popular. No Brasil, somente no canal da Disney, a produção foi vista por mais de 500 mil pessoas – número extremamente significativo para o mercado de tevê por assinatura. E a trilha sonora ultrapassou a marca de disco de platina. Empresas estão fechando contratos de licenciamento para estampar a marca em roupas de cama, brinquedos, artigos de banho, material escolar e até versões devideogame. Dos EUA, a estudante Marie Henry, dez anos, recebeu seu kit com camisetas, boné e mochila, tudo que não há por aqui. Mas o CD existe no Brasil. “Espero que, quando chegar ao ensino médio, o colégio tenha um musical”, diz ela. A amiga Maria Eduarda Borges, também com dez anos, concorda. “Se tivesse um teste, eu participaria.” E emenda: “Não me incomodo se virar modinha. De repente, lançam mais produtos e filmes.” De fato. High School Musical 2deve estrear nos EUA no[1] primeiro semestre de 2007. Afinal, o show não pode parar.