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A cena é comum há um bom tempo. Quando um pit bull aparece em local público, em geral quem está em volta procura se distanciar dele. Há uma razão para isso: os ataques do cachorro a pessoas crescem exponencialmente. Na semana passada em São Paulo, seis pessoas foram agredidas por cães dessa raça em apenas três dias, e uma delas morreu. Em Minas Gerais, o problema é tratado como questão de segurança pública. Este ano, foram registradas 648 ocorrências envolvendo pit bulls – 300% a mais do que em 2006. Desse total, 59 se referem a ataques, dos quais metade contra o próprio dono. “Por esses números não recomendamos a uma família ter um pit bull como cão doméstico”, afirma o coronel Claudio Teixeira, comandante operacional do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais.

Na manhã da segunda-feira 3, primeiro dia útil depois dos ataques em São Paulo, uma espécie de desespero coletivo congestionou as linhas telefônicas do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da cidade. Foram recebidas 27 ligações de donos de pit bulls que queriam se desfazer de seus bichos. Na ONG União Protetora dos Animais (UPA), de Campinas, a mesma história: dez pessoas telefonaram para doar filhotes da raça. “Estou apavorada porque comprei um pit bull de 60 dias; e ele vai crescer e pode comer a família toda”, dizia uma delas. Neste ano, o Centro de Zoonoses recolheu 669 pit bulls na rua, o dobro de 2006.

Fruto do cruzamento do buldogue com o terrier, o pit bull é colocado em rinhas há 300 anos, ou seja, é um expert na arte de lutar. Ele é forte e ágil – o que basta para tornálo perigoso – e, se não for educado com limites bem definidos, pode representar um risco à integridade física das pessoas (até do dono) a qualquer momento, sem aviso prévio. “O pit bull não é um assassino por natureza, mas não é um cachorro dócil, como o labrador”, diz o adestrador Eduardo Strotte, presidente da Associação Brasileira de Cinotécnicos. “É um cachorro com potencial de agressividade maior do que os outros e precisa de cuidados para aumentar a segurança das pessoas.”

Especialistas defendem que a questão não é a raça. “É a linhagem que norteia o comportamento dele”, explica o zootecnista Alexandre Rossi, pesquisador do comportamento animal e autor do best seller Adestramento inteligente. Ou seja, se os pais têm boa índole, o pit bull pode ser dócil. O problema é que poucos têm condições de garantir a origem do animal. O abandono indiscriminado só agrava a situação porque, na rua, ele pode cruzar com vira-latas e gerar um filhote com cara de bonzinho, mas com genes de pit bull.

Algumas medidas já foram tomadas para tentar controlar a situação. O Estado de São Paulo proibiu, em 2006, a circulação de pit bulls sem coleira, enforcador, focinheira e guia de condução, sob multa de R$ 125. Este ano, uma outra lei da capital paulista, que obriga a castração dos animais comercializados e a instalação de microchips para facilitar a identificação de quem vendeu e comprou o animal, está para ser regulamentada. Na prática, porém, o controle é ineficiente. Está marcada para a terça- feira 11 uma audiência na Assembléia Legislativa paulista para discutir a questão dos pit bulls.

Em Minas Gerais, uma portaria da Defesa Civil publicada na terça- feira 4 obrigou os proprietários de cães de porte físico grande a fazer o registro do animal em instituições conveniadas. Quem não cumprir a determinação paga multa de R$ 850 e, no caso de o cachorro atacar alguém, R$ 1.700. A resolução é importante para o controle da criação dos pit bulls, mas, infelizmente, não deve acabar com os ataques. A questão é séria e as autoridades precisam agir para garantir a segurança dos cidadãos.