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CONTRA OS FATOS Para Lula, nada é mais ético que o PT

 

Passadas 72 horas da histórica decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que colocou no banco dos réus os 40 acusados de protagonizar o chamado esquema do “mensalão”, entre eles toda a antiga cúpula do Partido dos Trabalhadores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu se contrapor aos fatos. No III Congresso do partido, em São Paulo, ele afirmou com todas as letras que ninguém tinha “mais autoridade ética, moral e política” do que o PT. “Nenhum petista tem que ter vergonha de defender um companheiro”, completou o presidente, acrescentando que, até agora, nenhum dos acusados foi condenado. A mensagem seria coerente se partisse de um líder partidário falando a seus correligionários. Mas não se trata disso. Desde 2003, Lula não é apenas a maior liderança do PT, o partido que está no governo, mas o presidente de todos os brasileiros. E, ainda que pudesse se despir do papel de chefe de Estado para desempenhar apenas o script do líder partidário, Lula também teria sido coerente. Afinal, quando o esquema do mensalão foi descoberto, o presidente disse em cadeia nacional que se “sentia traído” pelos antigos companheiros.

Ao fazer o discurso em defesa dos réus do mensalão, o presidente Lula colocou em prática aquilo que dias antes havia recomendado ao ministro da Justiça, Tarso Genro, o maior crítico interno do PT aos mensaleiros. Na terça-feira 28, logo depois de o STF sacramentar sua decisão histórica, o presidente telefonou para Tarso e lhe pediu para poupar, durante o Congresso do partido, o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu. “Essa semana ele está muito fraco”, disse o presidente. O recado foi tão objetivo que Tarso nem sequer participou do Congresso. Limitou-se a ouvir o discurso de Lula e foi embora.

Apesar das recomendações de Lula, o resultado do Congresso petista mostrou que o Campo Majoritário, onde está a maior parte dos mensaleiros, não tem mais a mesma força das últimas décadas para ditar os rumos do partido. No entanto, o PT está ainda mais dependente de Lula. Prova disso está na resolução a respeito da sucessão presidencial. Contra a vontade de Lula e dos aliados de José Dirceu, o partido aprovou a defesa da candidatura própria em 2010. O presidente precisou intervir e o texto final acabou ficando ambíguo: “O PT apresentará uma candidatura a presidente a ser construída com outros partidos e, assim, formar uma aliança programática, partidária e social capaz de ser vitoriosa nas eleições de 2010, e impedir o retorno do neoliberalismo”, afirma o documento final. “Nosso interesse é continuar governando o País. Não tenho a mínima dúvida de que o PT vai ter seu próprio candidato”, analisa o secretário de Relações Internacioanis do partido, Valter Pomar. “Não se busca um consenso impondo um nome. Isso seria um erro”, reage o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS).

Antecipar a sucessão era tudo o que Lula não queria e a posição petista acabou repercutindo na base aliada do governo. Na manhã da segunda-feira 3, em São Paulo, foi lançado o “Bloco de Esquerda”. De olho nas eleições de 2008 e 2010, 78 deputados federais de seis partidos governistas fecharam em torno do nome do deputado e ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE) como alternativa à sucessão do presidente Lula. O PT também aprovou outras teses incômodas ao governo, como a discriminalização do aborto, o apoio a um plebiscito sobre a privatização da Vale do Rio Doce e a criação de uma mini-Constituinte exclusiva para discutir a reforma política. “O governo não manda no partido”, disse o deputado Rui Falcão. Trata-se, na verdade, de um jogo de cena. Embora sem admitir oficialmente, todos no PT sabem que o partido não terá como influir no governo em questões como o aborto e a Vale do Rio Doce. Sabem também que com o enfraquecimento de Dirceu e de Luiz Gushiken o partido tem como principais aliados no governo apenas ministros não dados a nomeações, como Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social, e Luís Dulci, secretário da Presidência. Ou seja, cada vez mais o PT está dependente de Lula, pois há muito o funcionalismo público tem se tornado o núcleo central do PT.