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EFICIÊNCIA Corrêa tem bom currículo

 

O discurso oficial é: menos holofote e mais eficiência nas ações da Polícia Federal. A suspeita sobre o que de fato ocorrerá, porém, é bem outra: cabresto sobre a PF, uma instituição que, nos últimos tempos, vinha atuando de forma mais independente e, por isso, produzindo importantes resultados. A mudança no comando da polícia, perpetrada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, com a substituição de Paulo Lacerda por um delegado ligado ao PT, o gaúcho Luiz Fernando Corrêa, deverá produzir uma instituição bem diferente. O argumento por trás da mudança é de que, agora, se investirá mais no conteúdo das investigações e será diminuída a publicidade em cima das operações da corporação. Na segunda-feira 3, Corrêa, com a orientação do chefe na ponta da língua, assumiu o lugar do antigo xerife Lacerda, que comandou mais de 400 megaoperações nos quatro anos e sete meses em que esteve à frente da PF.

Lacerda deixa o cargo como credor do governo. Homem de confiança do antecessor de Genro, Márcio Thomaz Bastos, ele pôs ordem na casa. Pegou uma corporação em frangalhos, sob todos os aspectos. Não tinha funcionários em quantidade suficiente, faltavam armas e métodos de investigação, e setores inteiros eram dominados por policiais corruptos. Conseguiu mudar o quadro. Mirou na corrupção. Levou a PF às manchetes. Suas operações puseram na cadeia, ainda que temporariamente, pelo menos seis mil pessoas, a maioria acusada de roubar dinheiro público. A instituição Polícia Federal caiu nas graças da opinião pública, carreada pelas inúmeras imagens de presos algemados e de agentes recolhendo dinheiro escondido atrás de paredes falsas. Apesar de ter marcado pontos para o governo, com a saída de Thomaz Bastos e a assunção de Tarso, o modelo de polícia de Lacerda ficou para trás.

A veia política do novo titular da Justiça, Pasta à qual a PF está subordinada, falou mais alto. Ao próprio governo interessava uma atuação mais discreta da polícia. Saias-justas como a experimentada na Operação Navalha, que acabou por incluir o então ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, entre os suspeitos de receber dinheiro da empreiteira Gautama, provocaram irritação e constrangimento. Lula foi obrigado a demitir Rondeau, e seus aliados do PMDB chiaram. A dupla Tarso-Corrêa nega que haja qualquer viés político-partidário na nova linha de trabalho. Eles insistem que são apenas mudanças de procedimento. “O destaque da atuação da PF deve ser o conteúdo da prova e não necessariamente uma imagem, é mais do que ver uma pessoa jogada dentro de um camburão”, disse Corrêa na posse. O delegado Lacerda foi dirigir a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), uma gaiola de problemas tão ou mais graves que aqueles encontrados por ele na PF, ao assumir em 2003.

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TROMBADAS O ministro Tarso Genro discordava dos métodos de Paulo Lacerda

 

Corrêa, porém, tem suas qualidades. Delegado experiente, é igualmente afeito às técnicas de inteligência policial. Seus críticos o acusam de ser excessivamente ligado ao PT. Ele nega. É fato, porém, que Corrêa é um político exímio. À frente da Secretaria Nacional de Segurança Pública, montou uma bem costurada rede de relações com os secretários estaduais de segurança. Alguns, foi ele mesmo quem indicou – é o caso do secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. Como responsável pela verba federal destinada a investimentos em segurança nos Estados, soube imprimir sua marca. O Guardião, sistema de escutas telefônicas usado pela Federal, é um emblema dessa influência. Foi comprado por boa parte das polícias estaduais. Corrêa é um dos criadores do sistema.


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