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AVENTURA Roosevelt (à esq.) e Rondon lideraram outros 20 exploradores

 

Quando o expresidente dos EUA Theodore Roosevelt desembarcou no Brasil no início de 1914, ele buscava um desafio que o mantivesse ocupado o suficiente para se distanciar de problemas políticos e pessoais. Aventureiro incorrigível, Roosevelt já havia integrado expedições em selvas pela América do Norte e enfrentado um safári na África. Mas nenhuma viagem se mostrara tão desafiadora e perigosa quanto a que ele realizou na floresta brasileira. Ao lado do então coronel Cândido Rondon, Roosevelt comandou uma expedição para percorrer e mapear toda a trajetória de um rio amazônico nunca antes explorado. A missão, que ficou conhecida como Expedição Científica Roosevelt-Rondon, é o tema central do livro O rio da Dúvida. Resultado de uma pesquisa minuciosa da jornalista Candice Millard, a obra mostra todas as dificuldades enfrentadas durante meses pelos 22 homens até que conseguissem, finalmente, desbravar o misterioso rio no coração da selva amazônica.

 

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NOVAS CULTURAS Na viagem, a expedição conheceu várias tribos. Algumas eram agressivas

 

Roosevelt vinha de um momento particularmente difícil na carreira política. Ele acabara de perder o que seria a inédita terceira reeleição pela Presidência dos EUA, em 1913. E sempre que era tomado por uma grande derrota, ele buscava algo que o fizesse passar por uma provação mais forte. Foi assim com a morte do pai, com a perda da mãe e da primeira esposa, com o fim do segundo mandato, e seria assim também com a derrota nas eleições. Convidado a ser conferencista do Museu Social na Argentina, Roosevelt estava diante da oportunidade. Passaria pelo Brasil para uma aventura na enigmática (aos seus olhos) Amazônia.

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RUMO INCERTO Planos tiveram de ser refeitos porque os homens estavam despreparados

 

No País, optou pelo roteiro mais emblemático. E juntou seu desejo de exploração ao do coronel Rondon, que acabara de retornar de uma missão para implantar o sistema de telégrafo pelo interior do País. Considerado o maior indigenista brasileiro da época, Rondon descobrira o rio que não existia em nenhum mapa e estava disposto a explorá-lo de forma séria e responsável. Atraído pelo desafio daquele que seria seu guia na viagem pela Amazônia, Roosevelt uniu-se a Rondon para desvendar o rio da Dúvida. Embrenhados na selva fechada, os homens ficaram expostos a todos os tipos de perigo e puderam ver a morte de perto. Durante os meses em que permaneceram isolados de qualquer civilização, enfrentaram doenças tropicais, o risco iminente de um ataque indígena, fome, cansaço e a possibilidade de ficar abandonados à própria sorte naquele ambiente hostil.

Já na terra, antes mesmo de chegar à cabeceira do rio, a expedição enfrentou os primeiros problemas da aventura que seria capaz de consumir as forças dos exploradores. Completamente despreparados para o que estava por vir, eles levaram bagagem excessiva. Logo tiveram de se desfazer de grande parte dos mantimentos que, obviamente, fariam falta mais tarde. Nem mesmo os animais que os transportavam até o rio suportaram o esforço. Sucumbiam e eram abandonados no meio do trajeto. Nas águas turbulentas, Roosevelt, à frente de seus homens, temia o que as curvas sinuosas do rio da Dúvida poderiam esconder.

 

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HERÓIS ANÔNIMOS Muitos dos integrantes morreram na viagem, vítimas da malária

 

Lançados à sorte, eles enfrentaram fortes corredeiras e quedas d’água, tendo muitas vezes de seguir por terra firme e abrir trilha entre os nada hospitaleiros habitantes da floresta. A malária atingiu grande parte da expedição. Os homens, já fracos, tentavam resistir à febre alta e delirante. O próprio Roosevelt ficou à beira da morte e pediu para que os outros seguissem em frente e o abandonassem. Se no início a aventura se mostrava uma oportunidade única de explorar a Amazônia, quando ainda se sabia muito pouco sobre ela, naquele momento ela representava a incerteza de que poderiam voltar a salvo para a casa.

 

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Debruçada em documentos, diários e cartas, Candice conseguiu descrever, de forma muito real, esse duro dia-a-dia. A jornalista, que já foi editora da revista National Geographic, por vezes permeia a narrativa com explicações detalhadas sobre o ambiente selvagem e suas espécies e descreve até mesmo a sensação assustadora de se estar imerso na floresta. O rio da Dúvida trouxe medos e desespero aos homens da expedição. Mas desbravá-lo foi uma das maiores ambições na vida do ex-presidente americano.