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TOQUE O contato inicial apontaria incompatibilidades. Entre os personagens Homem-Aranha e Mary Jane a química deu certo

 

Quando o médico Miguel de Souza Aguiar beijou pela primeira vez a arquiteta Lívia Veludo não sabia que passava por um dos testes mais importantes da sua vida. Miguel tem 43 anos, Lívia, 32, e estão casados há seis. “O beijo é o principal. Eu não dormiria com um homem de beijo ruim nem se fosse o Brad Pitt”, garante Lívia. Miguel se define como romântico e também considera o beijo algo fundamental, mas não titubeia: “Lógico que eu transaria com Angelina Jolie, mesmo se ela não beijasse bem.” O médico coloca no mesmo patamar o beijo, a beleza e o charme. Sexo fica no topo. “É melhor a mulher saber transar.”

O casal, que mora em Ipanema, no Rio de Janeiro, ilustra com perfeição uma pesquisa da Universidade de Nova York que analisou reações e percepções de 1.041 pessoas. Divulgado na semana passada, o resultado mostrou que o primeiro beijo pode determinar o futuro da relação. Segundo o estudo, 59% dos homens e 66% das mulheres declararam ter descoberto, após o ato, que não estavam mais interessados em alguém por quem antes tinham se sentido atraídos. Os cientistas especulam que o contato poderia indicar ao casal que eles são geneticamente incompatíveis. A pesquisa comprovou também que a mulher dá mais valor ao beijo. Com o tempo, passa a ser, para ela, um instrumento para avaliar a relação. Para ele, perde a importância. Os homens são menos seletivos e mais propensos a relações sexuais sem beijo. O tipo de beijo preferido também é diferente: o homem gosta do mais molhado e com mais contato de língua porque, segundo os pesquisadores, tem menos capacidade de detecção sensorial – precisa de mais saliva para sentir a parceira. Além disso, acreditam que desse modo aumentam as chances de levar a mulher para a cama.

O psicanalista Alberto Goldim concorda que, de modo geral, a mulher procura mais romantismo e o homem é mais sexual, mas vê o estudo americano com reservas. Para ele, a relevância do beijo tem mais a ver com a expectativa. Goldim diz que o beijo tem perdido a importância diante da prática de “ficar”, no lugar de namorar. “Antigamente, era a primeira entrada no corpo do outro, algo que continuaria, mas hoje o beijo está cada vez mais banalizado.”

 

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Dois lados As mulheres valorizam mais o beijo. Lívia dispensaria quem não beija bem, até Brad Pitt. Miguel não recusaria Angelina

 

A estudante Camila Oliveira, 23 anos, uma das 20 mil integrantes da comunidade do Orkut “Eu amo beijo na boca”, discorda. “Sempre será fundamental. O máximo que fiquei com um cara que não beijava bem foi uma semana”, descarta. Para o cineasta e capoeirista Antônio Fernandes, 29 anos, “o beijo é só o capítulo de um livro, mas a cama é o livro”. Fernandes dá sua receita para superar uma eventual incompatibilidade: o diálogo. “Eu peço para abrir mais a boca, colocar mais língua, ou menos. É um feedback normal da relação. Também já fui corrigido, por morder muito.” Vale, portanto, a velha regra: quanto mais treino, melhor o jogo.