Feio, cabelo cortado como uma ferradura, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, chegou com 16 anos no time do Santos, onde fez sua estréia profissional. À época, se mostrava um jogador de tamanha agilidade e malícia de moleque que, apenas dois anos depois, já integrava a Seleção Brasileira. Temido pelos adversários estrangeiros e em franca escalada para o trono de Rei, sua emoção em campo era tão grande que, na partida final da Copa do Mundo de 1958 contra a Suécia, depois do quinto gol do Brasil, feito por ele, Pelé desmaiou. Na volta ao Brasil, engalanado com o uniforme da Seleção, Pelé ganhou de presente uma televisão, uma pequena quantia em dinheiro e um Romi Isetta, aquele carrinho estranho e apertado que teve razoável sucesso de vendas na década de 1950. Estas e muitas outras histórias curiosas, mais imagens cinematográficas de 400 gols, três mil fotografias e 150 depoimentos de amigos e celebridades integram o documentário épico Pelé eterno, de Anibal Massaini Neto, que está em cartaz nacional.

Documentar a vida do maior jogador de futebol de todos os tempos, eleito em 1981 o Atleta do Século XX com alguma folga, era um desejo antigo do diretor e produtor. Mas, ao longo das duas últimas décadas, ele esbarrou em dificuldades técnicas até chegar 1999, ano em que Massaini sentiu que estaria mais amparado com as novas tecnologias. Afinal, a maior parte das imagens de arquivo coletadas pela produção estava afetada por riscos, furos, fungos e perda de contraste. Entrou em ação a TeleImage e a Casablanca, em cujos laboratórios aconteceu a recuperação das fabulosas cenas de gols que fizeram história. Outros recursos de computador também recriaram dois momentos importantíssimos na carreira do Rei. Um é o seu gol preferido, o que ele realizou pelo Santos contra o Juventus, em 1959, conhecido como “O gol da rua Javari”, onde se localiza o campo do time paulistano. Para a recriação, primeiro um Pelé tridimensional foi esculpido em computador. Depois, no estúdio, atado a sensores, o próprio jogador reproduziu os passes saltitantes captados por 14 câmeras que transferiram as imagens para um computador, que refez o gol-arte.

O episódio entra mais como curiosidade e até certo capricho do Rei, que não se conformava em não ver seu feito documentado. Nem que fosse por vias virtuais. Verdadeiramente emocionantes são suas jogadas registradas pelas câmeras dos telejornais de então, todas devidamente costuradas por um roteiro impecável do escritor, roteirista, dramaturgo e diretor José Roberto Torero e pelo texto apaixonado do jornalista e comentarista esportivo Armando Nogueira. Pelé eterno foge da mesmice dos documentários ao trazer agilidade e a catarse necessária a este tipo de atração, cujo personagem é salpicado de louros. Mas a louvação é eterna como o título, porque em nenhum momento a imagem do jogador é maculada. Bem, em se tratando de um rei como ele, a torcida perdoa.