De todos os períodos da história da arte, o século passado foi o mais pródigo em movimentos.
Do fauvismo ao minimalismo – enumerando
ainda o cubismo, o futurismo, o surrealismo e o construtivismo –, um punhado de ismos pipocaram tornando velho o que até há bem pouco tempo era tido como vanguarda. É esta a sensação que provoca a mostra Encontros com o modernismo – destaques do Stedelijk Museum Amsterdam, em cartaz na Estação Pinacoteca, em São Paulo, a partir da quarta-feira 30. Reunindo 75 telas, esculturas, vídeos e fotos vindas do museu holandês, comple-
tadas com 20 trabalhos de artistas brasileiros pertencentes à Pinacoteca do Estado, a exposição enche os olhos do visitante. Maarten Bertheux, diretor adjunto do Stedelijk Museum e curador da mostra, explica que tentou alcançar dois objetivos com a coletiva. “Em primeiro lugar, queremos mostrar os grandes momentos da nossa coleção. Em segundo, tentar contar a história da arte moderna.”

A relação de obras de primeira qualidade inclui títulos como Tableau nº 3, composição em oval (1913) e Composição com amarelo, vermelho, preto, azul e cinza (1920), de Piet Mondrian; Natureza morta com guitarra (1924), de Pablo Picasso; Dois entornos (1934), de Wassily Kandinsky; e Três nus na floresta (1908), de Ernst Kirchner, entre outros mestres dos pincéis. Na ambição de resumir as grandes linhas do modernismo, trabalho hercúleo para qualquer curador, Bertheux também se mostra bem-sucedido. “Essa história poderia ser contada de forma enciclopédica, a partir dos grandes nomes. Preferi buscar conexões entre as obras.” Estas conexões se dão de diferentes maneiras. É clara, por exemplo, a linha que une Trem de hospital (1915), do futurista Gino Severini, e a tela cubista de Picasso, mostradas lado a lado. Estão lá o mesmo fracionamento de planos e a mesma paleta de cores, embora Severini se mostre mais preso aos elementos figurativos.

Outras pontes visuais foram construídas para encurtar décadas, como acontece
no fantástico segmento dedicado à escola de Nova York, que polarizou a arte mun-dial na década de 1950. Na sala com obras abstratas de Jackson Pollock e Barnett Newman, entre outros, são confrontadas as telas As Índias galantes (1967), de
Frank Stella, e A extinção do sentimento (1991), de Peter Halley – um dos vários artistas contemporâneos que continuam trabalhando na tradição do modernismo. Com os mesmos tons de amarelo, verde e laranja, as duas pinturas parecem assinadas pelo mesmo autor.

Para não dispersar o visitante, o curador holandês criou três grandes percursos na mostra, que ocupa dois andares do antigo prédio do Dops, agora restaurado em grande estilo – o abstracionismo, o expressionismo e a arte conceitual. Em cada grande segmento, foi eleita uma espécie de viga mestra. No abstracionismo, ela atende pelo nome de Mondrian. No expressionismo – que traz um dos 13 Willem de Kooning do museu, Manhã, The Springs (1983), e uma bela sala com óleos de Asger Jorn, Constant e Karel Appel, integrantes do grupo CoBrA –, a figura-chave é Ernst Kirchner. E, no segmento conceitual, é Marcel Duchamp o cabeça, representado por uma obra menor, o caderno de artista Água & gás em todos os andares (1959). No grupo, ganham destaque Tony Cragg com a escultura Perseus-Oltmanns (1985), feita de tubos de PVC, cesto de bambu e leiteira de alumínio; o eterno Andy Warhol com a tela Bellevue II (1963); e Jeff Koons com a escultura Prenunciando a banalidade (1988). Na verdade, a obra não é de sua autoria. Trata-se de uma escultura do artesão austríaco Franz Wieser, comprada por Koons, mas que ao ser exposta, segundo o artista, ganha um novo conceito.