Somente os céus sabem o quanto o inglês Morrissey já se sentiu infeliz. Mas, agora, o ex-vocalista do grupo The Smiths – a banda que sintetizou a sonoridade dos anos 1980 – decidiu politizar algumas letras, sem, é claro, deixar de lado a passionalidade.
A nova poesia integra o criativo e elegante álbum You are the quarry, o primeiro em sete anos, depois do lançamento de Maladjusted (1997). Tal movimentação de sentimentos talvez seja reflexo de outras mudanças. Desde 1998, Morrissey trocou o cinza da sua Inglaterra nativa pelo frenesi poluído de Los Angeles, onde hoje vive numa casa que já foi de Clark Gable. Lá, cultiva novas amizades e milita numa entidade contra os maus-tratos aos animais.

A oxigenação na vida o fez, aos 45 anos, criar músicas como a lenta America is not the world (A América não é o mundo), que traz versos do tipo: “América/a terra da liberdade, eles disseram/e da oportunidade/de modo justo e verdadeiro/mas onde o presidente/nunca é negro, mulher ou gay.” Ou a épica Irish blood, english heart (Sangue irlandês, coração inglês). Mas há também legitimidades do “Senhor Infelicidade”, entre elas Come back to Camden, dolorida na melodia e na letra cheia de referências à solidão e à ansiedade de ter alguém. No geral, o disco traz canções recheadíssimas de guitarras melodiosas, acrescidas de baixo, bateria e oportunas intromissões de teclados, como na agitada First of the gang to die. Ou seja, tem acento pop-rock, é moderno, mas sem ranço sintético.