Na versão para o inglês que Os Mutantes fizeram de Baby, de Caetano Veloso, o verso “Você precisa aprender inglês” virou “You know, it’s time now to learn portuguese” (Está na hora de você aprender português). A faixa abre com ironia o segundo álbum de Bebel Gilberto, que leva apenas o seu nome. Misturando canções em inglês e em português, a cantora brasileira, nascida e radicada em Nova York, coloca em outro patamar o sempre problemático namoro da música nacional com o mercado externo. Sucessor da bossa eletrônica do CD Tanto tempo (2000), que lançou a filha de João Gilberto e Miúcha no cenário internacional, Bebel Gilberto é um disco basicamente acústico, apesar da produção do mago eletrônico de estúdio Marius de Vries, o mesmo dos álbuns da islandesa Björk.

Exceto um ou outro samba e uma canção de ninar, a maioria das 12 faixas é formada de músicas pop de feitio bossanovista. Na melancólica Simplesmente, por exemplo, sua voz doce passeia por um arranjo de piano, violão e percussão, tendo ao fundo
as cordas da London Session Orchestra. Mudam os músicos – entre eles os do admirável time brasileiro, que inclui João Donato, Carlinhos Brown, Marcos Suzano e Jorge Hélder –, mas permanece a unidade conceitual. Basta ouvir All around, na qual a cantora parece emular a Tracey Thorn dos tempos new bossa do Everything But the Girl. Ou seria Astrud Gilberto? A impressão é dissolvida em Jabuticaba, parceria com Carlinhos Brown, em que cita com autoridade genética o verso “Quiet nights of quiet stars” da versão para o inglês de Corcovado.