Há pelo menos duas preocupantes armadilhas por trás da crise aérea brasileira. Em meio a verdades como a inconseqüente política salarial imposta aos controladores de vôo e a um fluxo cada vez mais intenso de aeronaves sobre o território nacional são inseridas, muitas vezes com a oportunista conivência de algumas autoridades civis e militares, contra-informações e até sabotagens a serviço de bilionários interesses internacionais. Não é verdade que nossos radares estejam sucateados, assim como não é verdadeira a afirmação de que existem pontos cegos em nosso território, a ponto de se tornar uma aventura voar no Brasil. Isso tudo, no entanto, não invalida a necessidade que o País tem de aumentar o número de radares, o que implica investimentos consideráveis. Aqui reside a primeira armadilha. Nosso espaço aéreo é controlado por equipamentos de diversas nacionalidades e há uma acirrada disputa principalmente entre americanos e franceses para nos vender novos radares. Nessa briga vale quase tudo, inclusive denegrir a imagem do concorrente. Não se espera que disputas internacionais dessa monta sejam protagonizadas por anjos, mas é assustador imaginar a possibilidade de que servidores públicos do Brasil estejam fazendo o jogo desses interesses.

A outra armadilha é ainda mais perversa. Está relacionada diretamente ao acidente com o vôo 1907 da Gol, que vitimou 154 pessoas. As contra-informações que desmoralizam nosso controle de tráfego aéreo ganham ares de veracidade antes que maiores investigações sejam concluídas. É o que basta para que as companhias de seguro tenham argumentos para procurar remeter ao Tesouro Nacional as indenizações devidas. Portanto, é de fundamental importância que as apurações sobre as causas do maior acidente da aviação brasileira não sejam contaminadas pelos lances das disputas comerciais. Nada disso, porém, justifica a falta de informações a que estão submetidos milhares de passageiros que diariamente têm seus vôos atrasados e até cancelados.