Como qualquer brasileiro, o cidadão José Dirceu precisa trabalhar. Ao perder suas funções de ministro-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, dois anos atrás, disse que passaria a advogar. Reclamou da falta de dinheiro e, ato seguinte, partiu para uma longa viagem internacional. Ao retornar ao País, tangenciou as colunas sociais, aparecendo no Rio e em São Paulo em encontros bacanas. Agora, finalmente, sabe-se mais claramente o tipo de advocacia que ele faz. O advogado José Dirceu representa, em primeiríssimo lugar, o ex-ministro José Dirceu.

Nessa condição compreende-se sua importância para grandes empresas, do Brasil e alhures, como consultor de negócios e oportunidades. Ele foi o homem que, simultaneamente, coordenou mais de 50 grupos de trabalhos sobre os mais diferentes setores da economia nacional. Mesmo que não tenha tido tempo para aprender muito sobre tantos assuntos, em sua passagem pelo governo ele se mostrou um craque com a caneta nas mãos. Por bem ou aos berros, colocou seus amigos em cargos-chave do governo. José Dirceu conhece melhor do que ninguém quem é quem no segundo, terceiro, quarto e etc. escalões da administração pública. Um consultor assim vale ouro.

Um consultor assim tem mesmo é que viver em viagens, conversando a portas fechadas com megainvestidores, participando da intimidade de nababos do petróleo como o presidente venezuelano, Hugo Chávez, tratando de negócios em Washington na Câmara de Comércio dos Estados Unidos. De volta ao Brasil, Dirceu certamente dá encaminhamento ao que foi combinado – e nessa hora o que vale ouro é o mapa do poder que ele tem na memória. Em seus tempos de opositor ao establishment, José Dirceu poderia chamar este tipo de ação pelo nome: lobby. Agora é consultoria. Seja como for, é por isso, talvez, que tantas andanças e conversas comecem a preocupar até os ocupantes do Palácio do Planalto.