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MUITO HOLOFOTE, POUCO RESULTADO
Na quarta-feira 21, Carlinhos Cachoeira deixava a prisão na Papuda, em Brasília, de carro.
No mesmo dia, a CPI (abaixo) que leva o nome do contraventor divulgou um relatório final sem novidades

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Um contraventor reincidente, um senador que liderava a bancada da ética e uma empreiteira de porte nacional. Começou assim o escândalo envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira e seus tentáculos no poder público. Em abril, após a divulgação de escutas telefônicas pela Polícia Federal, a Câmara e o Senado instalaram a CPI mista que deveria avançar além das apurações feitas pela PF nas operações Monte Carlo e Vegas. Com Cachoeira preso e o senador Demóstenes Torres acuado, a CPI só trabalhou para acalmar a voz das ruas, que pedia a cabeça do parlamentar amigo do bicheiro. Três meses depois da criação da comissão, o senador foi cassado e os trabalhos começaram a fazer água. As informações sobre os tentáculos da empreiteira Delta em órgãos públicos e sua influência junto a autoridades cresciam a cada dia, mas a maioria dos integrantes da comissão decidiu ignorar as evidências. Depois de firmarem um pacto de não agressão, os parlamentares esvaziaram a CPI. A promessa de pizza foi concretizada na quarta-feira 21, no relatório do deputado Odair Cunha (PT-MG).

Os trabalhos da comissão terminaram e 638 requerimentos de convocação e quebras de sigilo nem sequer foram analisados. O esperado documento final do relator chegou sem informações novas sobre a teia de corrupção de Cachoeira, envolvendo parlamentares, integrantes do Judiciário e gestores municipais. O desfecho da comissão ocorreu no mesmo dia em que Cachoeira foi solto do presídio da Papuda, em Brasília, onde ficou encarcerado por nove meses. O relator não foi econômico nos indiciamentos. Apontou 34 pessoas que estariam envolvidas com Cachoeira em seu parecer. Muitos dos nomes, no entanto, já constavam de denúncias do Ministério Público. De novo no relatório está o indiciamento de algumas autoridades e o pedido de investigação contra o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. O governador de Goiás, Marconi Perillo, o ex-senador Demóstenes Torres e o deputado Carlos Leréia (PSDB-GO) abrem a lista de 12 acusados de usar a influência de cargos públicos para obter vantagens do esquema do contraventor. Na quarta-feira 21, Perillo disse ser vítima de perseguição e anunciou que irá processar o relator.

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EM FAMÍLIA
Cachoeira comemorou a liberdade ao lado da mulher, Andressa Mendonça

O pífio resultado de quase oito meses de trabalho, assessorado por centenas de servidores, constrangeu o próprio relator, que pediu sugestões do grupo para alterar o relatório e adiou a votação para a próxima semana. “Espero que corrijam, ainda há tempo. Quase meio bilhão foi repassado a empresas laranjas e a CPMI só quebrou o sigilo de 20% delas”, criticou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). 

Odair vai dedicar o fim de semana para alterar os pontos mais problemáticos de seu texto. As omissões de temas importantes à investigação e as falhas da comissão ficaram mais do que evidentes no relatório de cinco mil páginas que não traz informações sobre contas do contraventor no Exterior, sobre o esquema da Delta no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), movimentações financeiras das empresas laranjas e a influência da quadrilha no Judiciário.

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Fotos: ANDRÉ COELHO/Ag. O Globo; Sergio Lima/Folhapress