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DISPUTA
Ferreira Pinto comprou briga com a Polícia Civil
ao retirar da corporação a corregedoria

As notícias diárias de homens encapuzados em motocicletas que atiram na calada da noite contra pessoas indefesas ou PMs viraram rotina em São Paulo. Nas últimas semanas, a capital paulista passou a registrar cerca de dez assassinatos por noite. Todas as manhãs contam-se as vítimas da guerra surda entre o crime organizado e a polícia. Em outubro, houve 176 homicídios, um aumento de 114% em relação ao mesmo mês do ano passado. Apesar da crescente violência, o então secretário de segurança pública Antônio Ferreira Pinto negava qualquer crise e relutou em aceitar ajuda federal para lidar com o problema. Na semana passada, porém, ele e sua prepotência foram derrotados. Ferreira Pinto deixou o cargo para o qual o governador Geraldo Alckmin indicou Fernando Grella Vieira, ex-procurador-geral de Justiça.Ligado à Polícia Militar, Ferreira Pinto comprou uma briga com a Polícia Civil ao retirar a corregedoria da entidade e chamá-la para si e ao reforçar o papel do Batalhão de Choque Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) na apuração de crimes.

Pessoas próximas do ex-secretário dizem que, por conta dessas medidas, a Polícia Civil estaria fazendo uma espécie de “operação tartaruga” nas investigações. Além disso, também foi enfraquecido com a informação de que uma banda podre da PM teria vendido a bandidos do Primeiro Comando da Capital (PCC) uma lista com o nome e endereço de 100 policiais. A corregedoria da PM averigua o caso.

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TAREFA
Fernando Grella chega com a missão de conter o crime
organizado e selar a paz entre as polícias civil e militar

Por isso, a missão de Grella não é fácil. Em seu discurso de posse, ele reconheceu que a situação atual foge da normalidade e que o crime organizado precisa ser combatido. “Isso será feito com planejamento, inteligência e capacidade de atuação concorrente em todos os entes que compõem a Federação”, afirmou. Um dos desafios do novo secretário será enfrentar os supostos grupos de extermínio formados por policiais militares. Demissionário, o delegado-geral da Polícia Civil do Estado de São Paulo, Marcos Carneiro Lima, afirmou que os indícios de envolvimento de policiais em alguns dos crimes recentes são muitos. Segundo ele, em pelo menos um dos homicídios a vítima teve sua ficha criminal pesquisada pela polícia pouco antes do assassinato. “Bandido mata e foge porque tem medo de ser pego. Matar várias pessoas em um mesmo lugar e depois ainda eliminar provas não é comum”, disse Carneiro.

Para resolver essa questão, é necessário fortalecer os serviços de inteligência, historicamente exercidos pela Polícia Civil, e conter o uso da força pela PM. Uma das grandes críticas ao ex-secretário de segurança pública foi exatamente ter seguido o caminho inverso. No discurso de despedida, de meia hora, Ferreira Pinto deixou clara sua opção. “Sempre prestigiei sim, e me orgulho disso, o trabalho da Rota”, declarou. Para Theodomiro Dias Neto, professor da Faculdade de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em segurança pública, o novo secretário tem grandes desafios para conseguir o respeito da população. No caso da PM, é preciso controlar o uso da força por parte da corporação. No caso da Polícia Civil, é necessário combater a corrupção. “O principal passo nesse caminho é a escolha dos comandos das polícias”, afirma.

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Outra tarefa espinhosa é a conciliação e a integração de forças das polícias civil e militar. De acordo com Olímpio Gomes, major da reserva da PM e deputado estadual, a tensão entre as duas instituições acirrou-se principalmente depois de 16 de outubro de 2008, quando os militares impediram uma passeata dos civis que estavam em greve e caminhavam em direção ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Houve embate e tiroteio. “Desde então, as rixas só aumentaram, mas elas não serão resolvidas com reuniões de líderes e festas de confraternização”, diz ele. Um dos motivos para a escolha de Grella foi seu temperamento conciliador que, agora, será posto à prova. Ele tem a vantagem também de contar com mais interlocução junto à sociedade civil. “Acho que podemos esperar mudanças em direção a uma gestão mais moderna e eficiente. Estou otimista”, diz Luciana Guimarães, diretora do Instituto Sou da Paz.


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