Luiz Inácio Lula da Silva teria se tornado presidente da República sem a colaboração de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares? Provavelmente não. E o que o ex-presidente pensa sobre a condenação a penas de prisão, em regime fechado, a dois de seus colaboradores (Dirceu e Delúbio), e semiaberto a um deles (Genoino)? “Não sei, não assisti”, respondeu.

O silêncio é justo? A resposta é a mesma. Provavelmente não. Mas o fato é que, na política, mais do que em qualquer outra atividade, não existe passado. Só há futuro. Os mortos ficam pelo caminho e os sobreviventes seguem adiante.

Lula, assim como seus companheiros condenados, está na alça de mira dos inimigos e sabe que sua única missão é sobreviver. Ou, ao menos, garantir com que também sobreviva o Partido dos Trabalhadores, que, sem Lula, não tem metade de sua força. Fruto da união entre guerrilheiros e sindicalistas, o PT construiu seu caminho em direção ao poder pela via democrática, e não revolucionária.

Essa escolha, tomada na origem do partido, traz implicações práticas no caminho a tomar diante do resultado do julgamento da Ação Penal 470. Em nota, o Dirceu condenado a dez anos e dez meses de prisão disse que vai lutar “mesmo cumprindo pena”. Também em nota, Genoino, sentenciado a seis anos e 11 meses, afirmou que respeitará a decisão do Supremo Tribunal Federal, mas jamais irá aceitá-la.

Melhor fariam se encarassem as penas que lhes foram impostas como a cota pessoal de sacrifício ao projeto de poder pelo qual lutaram. Sofreriam menos. Economizariam frustrações. O momento atual é de virar a página. Dirceu, Delúbio e Genoino elegeram Lula numa democracia frágil e dependente do dinheiro privado para o financiamento de campanhas. Exerceram o poder diante de um Congresso corrupto, que negocia permanentemente as condições de governabilidade. Caíram quando um chantagista tentou aumentar o preço. E não mudaram o sistema político brasileiro.

O resultado natural da condenação seria a imposição das penas, que saíram na segunda-feira 12. Justas ou não, elas também foram decididas segundo as regras do jogo. Pode-se questionar a qualidade dos juízes, o critério de escolha adotado por Lula na seleção de ministros para o STF, o efeito que o circo midiático provocou sobre a personalidade de cada um deles e a estratégia judicial adotada. Mas nada disso vai mudar o resultado.

Os três condenados se veem como presos políticos. O STF os enxerga como criminosos comuns. Com o andar da carruagem, a sociedade brasileira saberá discernir se a Ação Penal 470 foi um divisor de águas ou um julgamento de exceção. E o caminho democrático, em lugar da via revolucionária, mais fortalece do que enfraquece o PT, como mostram os resultados eleitorais recentes.