Para alegria geral da maioria dos brasileiros, latino-americanos, europeus, chineses, árabes e, desconfio, até marcianos, o presidente Barack Obama se reelegeu.

A vitória não foi consequência do sucesso econômico da primeira gestão de Obama – que, aliás, não aconteceu –, mas das muitas gafes de seu adversário e, na última hora, da chegada do furacão Sandy à costa leste americana. Obama não derrotou Romney no campo político, mas no carisma pessoal.

Em sua primeira campanha eleitoral, Obama vendeu esperança: “Yes, we can”. Agora foi bem mais sóbrio, dizendo que ninguém poderia resolver em apenas quatro anos todos os problemas econômicos que herdou do governo Bush. Verdade, mas exatamente o contrário do que ele mesmo dizia em 2008.

São mais quatro anos para ele tentar, mas o desafio continua hercúleo. Esperemos que Obama tenha aproveitado bem a noite de núpcias da reeleição, porque a lua de mel já foi cancelada. No dia após à eleição, tivemos as maiores quedas das bolsas de valores americanas neste ano. Investidores estão preocupados com as dificuldades que ele enfrentará para desarmar o que nos EUA apelidou-se de abismo fiscal e para elevar outra vez o teto da dívida pública americana.

Na última vez em que os congressistas americanos aprovaram o aumento do limite da dívida, permitindo que o governo se endividasse ainda mais, eles também programaram uma série de ajustes fiscais para evitar que as contas públicas ficassem descontroladas, levando os EUA a uma crise similar à vivida pela Europa. Esses ajustes entram em efeito a partir de 1º de janeiro. Para acomodar demandas de democratas, várias isenções de impostos criadas pelo presidente Bush deixarão de existir. Para satisfazer os republicanos, vários programas do governo vão passar por cortes significativos.

Somando aumentos de impostos e cortes de gastos públicos, mais de US$ 600 bilhões serão retirados dos bolsos dos consumidores americanos, praticamente garantindo uma recessão em 2013, se efetivamente implementados.

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Obama tem até o final de 2012 para desarmar essa bomba-relógio e elevar novamente o teto da dívida pública americana. No início deste ano, o governo foi autorizado a expandir sua dívida em US$ 2,1 trilhões, podendo chegar até US$ 16,4 trilhões. Até o fim do ano, o novo teto deve ser atingido, exigindo nova elevação.

A negociação será difícil. O partido de Obama, o Democrata, tem maioria no Senado, mas é minoria na Câmara dos Deputados. Sem o apoio de mais de uma dezena de deputados republicanos, Obama não conseguirá nem desarmar o abismo fiscal, nem elevar novamente o teto da dívida.

O problema é que os republicanos opõem-se radicalmente a qualquer aumento de impostos, fundamental para os ajustes necessários. O mais provável é que, no último minuto, republicanos e democratas se entendam e um acordo seja alcançado, mas tal acordo está longe de ser uma certeza. Mesmo que acabe acontecendo, antes disso o mundo deve viver semanas de grandes preocupações e incertezas quanto ao futuro da economia americana. Como se já não bastassem a crise europeia, a desaceleração da economia chinesa e um eventual conflito bélico com o Irã…
Boa sorte, Obama. O mundo vai precisar. 


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