A escritora americana Patricia Highsmith tem um público fiel, que venera seu mais famoso personagem, Tom Ripley, como um dos clássicos do policial. Neste As duas faces de janeiro (A Girafa, 360 págs., R$ 45), Ripley não chega a aparecer. Mas o leitor acaba se perguntando se não seria ele simplesmente um alter ego de Ridley Keener, talvez um dos personagens mais improváveis da literatura do gênero. Toda a trama se passa no curto período de alguns dias, freneticamente descritos em meio a disparates. Fala de um casal americano que passa férias providenciais na Grécia, tentando despistar os policiais que estão no encalço do marido Chester MacFarland, golpista do mercado financeiro perseguido por seus inúmeros codinomes.

Tal fuga não funciona e Chester é localizado pela polícia de Atenas no hotel em
que se hospeda e no qual mata o policial que o procurou. Keener, a ovelha negra de uma família de intelectuais do Leste dos Estados Unidos, é testemunha casual do assassinato e, movido por um impulso mórbido, se oferece para ajudar o casal a esconder o corpo e fugir da cena do crime. Deste momento em diante, a vida (e a morte) está inexoravelmente entrelaçada a uma vertiginosa escapada por alguns
dos principais pontos do turismo grego, basfond incluído, embora sem nenhum
sinal do glamour e da luminosidade que caracterizam o país. O desenlace é tão improvável quanto curioso, bem ao estilo da velha senhora, falecida em 1995.
Seus fãs vão adorar.