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EXPECTATIVA
Em sua quarta edição no formato ampliado, o Enem atraiu 5,7 milhões de estudantes 

Desde a transformação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em uma das principais formas de acesso ao ensino superior, em 2009, uma questão de difícil resposta paira sobre o Ministério da Educação (MEC): como garantir segurança a um exame com mais de 5,7 milhões de inscritos? Cada vez mais cobiçado, o Enem é hoje pré-requisito para vários programas do governo (leia quadro) e método de seleção para 95 instituições de ensino superior, sendo 38 federais. Com um histórico de falhas e fraudes, o governo anunciou na semana passada um pacote de medidas de segurança. As principais são o aumento do Banco Nacional de Itens (espécie de arquivo de questões para a elaboração da prova), o uso de um lacre eletrônico para monitorar o caminho percorrido pelos malotes do exame e novas regras para a correção das redações, etapa muito contestada na última edição. “Estou bastante tranquilo e muito otimista. Vamos fazer um excelente Enem”, disse o ministro da Educação Aloízio Mercadante, que enfrenta seu primeiro exame no comando da pasta. “Quanto à segurança, todas as medidas foram reforçadas.”

Com a declaração positiva, Mercadante espera afastar do horizonte o fantasma de sucessivos problemas ocorridos nas últimas três edições, que culminaram com a revelação, no último ano, de uma grave falha no exame. Nem havia terminado a aplicação da prova quando um burburinho se formou em torno da semelhança entre seu conteúdo e o de um simulado distribuído pelo Colégio Christus, de Fortaleza. Com o passar dos dias, a denúncia tomou corpo e o MEC confirmou as suspeitas. Havia nove questões iguais, uma semelhante e quatro que, embora com enunciados diferentes, seguiam a mesma linha de raciocínio. Todas elas haviam sido retiradas do pré-teste (uma espécie de testagem da qualidade das questões) aplicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela aplicação do teste, no mesmo colégio, no ano anterior. O imbróglio acabou na Justiça, com o indiciamento do professor Jahilton José Motta, acusado por vazar o conteúdo, e houve a anulação das 14 questões para os alunos do colégio cearense. Mais do que a possível má-fé do funcionário, a situação revelou a fragilidade do Banco Nacional de Itens, uma importante fissura no novo sistema de seleção para o ensino superior.

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INVESTIGAÇÃO
Com um funcionário indiciado pelo vazamento, colégio cearense foi pivô de problemas no Enem 2011

“Se o sistema estivesse benfeito, não haveria fraude porque existe uma autoimunidade garantida pela quantidade de questões que consta no Banco”, diz o procurador da República Oscar Costa Filho, responsável pelo pedido de anulação das perguntas que vazaram. “Quanto mais itens, mais difícil coincidir, é como uma loteria”, compara. À época, o estoque era de seis mil perguntas. De acordo com a assessoria de imprensa do MEC, esse número subiu para dez mil para esta edição. “Para dar segurança, o ideal é que houvesse no mínimo 20 mil questões”, diz Tufi Machado Soares, do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora. O MEC, porém, considera que a falha de 2011 só ocorreu devido a uma sucessão de trapalhadas que não se repetirá.

Aumentar o Banco de Itens é o maior desafio para o MEC nos próximos anos. Para os outros obstáculos, de resolução mais simples, o pacote anunciado deve produzir efeito imediato. É o caso das redações. “A forma de correção este ano foi aperfeiçoada”, considera José Francisco Soares, do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais da Universidade Federal de Minas Gerais. Em 2011, mais de 120 estudantes reclamaram na Justiça por não concordar com suas notas no teste escrito. Tantas reclamações resultaram em novas regras. Os textos seguirão sendo corrigidos por dois avaliadores. Agora, porém, se a diferença entre as duas notas for superior a 200 pontos (a redação vale de 0 a 1.000), haverá uma terceira correção. Se a discrepância persistir, uma banca com três avaliadores será chamada. Até o último ano, não existia a banca e só havia a terceira correção em diferenças maiores de 300 pontos. Diante das mudanças, parece que ao menos os erros têm servido de lição.

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ESTREIA
Em seu primeiro Enem, Mercadante acredita em prova tranquila nos dias 3 e 4 de novembro

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Foto: Alessandro Shinoda/Folhapress; Jarbas Oliveira/Folhapress; Ailton de Freitas/Ag Oglobo


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