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PONTAS
Todos os dias, as ruas de São Paulo recebem mais de 34 milhões
de bitucas, que podem virar papel, adubo e até arte

Apenas na cidade de São Paulo, mais de 34 milhões de bitucas são jogadas nas ruas todos os dias. Além de colaborar para o entupimento de bocas de lobo e bueiros, as pontas de cigarro contêm mais de quatro mil substâncias tóxicas, que acabam poluindo canteiros e rios. Qualquer calçada dá uma ideia da dimensão do problema. Pois foi justamente ao prestar atenção nas pontas de cigarro que se acumulavam nas sarjetas do bairro e da favela de Heliópolis, zona sul de São Paulo, que os estudantes Alan Melo, Gabriel Anísio e Vinícius de Souza resolveram imaginar uma saída ecologicamente correta para as bitucas.

Alunos de 16 a 18 anos do curso de administração da Escola Técnica Estadual de Helió­polis, os jovens se inspiraram em uma pesquisa da Universidade de Brasília para desenvolver seu método de transformar as pontas de cigarro em papel. Antes de formar a pasta de celulose, as pontas são limpas em uma solução química que tira o odor do tabaco. Com 200 gramas (cerca de 300 bitucas), produzem sete folhas de papel A4, tamanho do sulfite comum. Batizado de Sementuca, o projeto não se limita a transformar dejetos em objetos úteis. “Queríamos ir além, fazer alguma coisa para impedir que nosso produto voltasse para a natureza como lixo”, diz Vinícius. A solução foi colocar pequenas sementes de hortaliças e flores na massa com a qual o papel é composto. Assim, em vez de descartados, os envelopes, cartas e blocos feitos com o material podem ser plantados.

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MAIS FOLHAS
Os estudantes Gabriel Anísio, Vinícius de Souza e Alan Melo criaram
um método que transforma bitucas em papel que pode ser plantado

Além de proteger o ambiente, o Sementuca também tem como meta a viabilidade comercial. O projeto foi elaborado como um modelo de negócio. “Nosso próximo passo agora é fazer a análise toxicológica da planta que nasce do papel-semente, para saber se há algum resquício de substâncias perigosas no vegetal. Mas para isso precisamos de um financiamento, pois o processo é caro”, avalia Gabriel. O objetivo é participar da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia e a partir daí chegar até a feira de Los Angeles, nos EUA. “Depois, quem sabe, abrir a nossa própria empresa”, sonha o estudante.

A preocupação e os projetos para dar um fim digno às pontas de cigarro movimentam também empresas e o poder público. A Prefeitura de São Paulo estuda parcerias para instalar coletores de pontas de cigarro na capital e encaminhar o material para reciclagem. No Canadá, a empresa TerraCycle troca as bitucas de cigarros por brindes e transforma o material em plástico (leia quadro). Projetos como esses não impedem que a fumaça do cigarro prejudique vários órgãos do corpo, mas pelo menos ajudam a atenuar os problemas de consciência do fumante.

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Foto: Rogério Cassimiro/Ag. Istoé