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CONTRASTE
Quatro décadas atrás, o conservador Richard Nixon (à esq.) tinha a confiança dos americanos.
Hoje o presidente Barack Obama (à dir.) vem brigando por cada ponto nas pesquisas

Foi uma reeleição fácil para Richard Nixon. Contra ele, naquele ano de 1972, estava George McGovern, um pacifista liberal que acabou perdendo por uma diferença de 23,3% – a quarta maior na história das eleições americanas. Foi com esse amplo apoio que Nixon assumiu seu segundo mandato. Ninguém poderia imaginar que, três anos depois, teria de abandoná-lo em desgraça por ser apontado como líder do escandaloso roubo de arquivos da sede do Partido Democrata em Washington – a sede de Watergate. Ninguém poderia suspeitar, tampouco, que seu mandato inauguraria uma era de profundas transformações políticas e sociais que culminariam, em 2008, na eleição do primeiro presidente negro da história do país.

Em 1972, no auge dos movimentos por direitos civis que buscavam o fim do racismo que dividia a sociedade americana e em meio a revoltas generalizadas que pediam o fim da guerra do Vietnã, Nixon teve de assumir uma posição de conciliador, ainda que isso ferisse a extrema direita republicana. Bancou, assim, a desastrosa retirada de tropas americanas da Indochina e conseguiu sustentar a imagem de conciliador. Ao lado de Henri Kissinger, seu secretário de Estado e confidente, usou de todas as suas armas para manter a frágil balança de poder que o país dividia com a extinta União Soviética. Não por outro motivo, a guerra foi uma constante desde sua nefasta renúncia – foram dez intervenções militares diretas.

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A consequência dessa política intervencionista, que se intensificou na década de 1980 com uma sucessão de governos republicanos, é o rombo nas contas públicas. Um desequilíbrio que hoje ameaça a posição de superpotência ocupada pelos Estados Unidos desde a queda do muro de Berlim em 1989 e põe em risco a própria reeleição do democrata Barack Obama. Ele também tem o desafio de liquidar as frentes abertas no Iraque e no Afeganistão por seu antecessor George Bush e recuperar a economia. “A maioria dos poderes hegemônicos ruiu por causa de uma combinação letal de dívida e guerra”, afirma o professor José Antonio Sanahuja, da Universidade Complutense de Madri. “E a economia americana se encontra à beira desse precipício fiscal.” 

Fotos: Everett Collection/Glow Images; montagem sobre foto de Mandel NGAN/afp photo e Pete Souza/ Official White House Photo; Nick Ut/AP Photo; Shamil Zhumatov/Reuters