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TRAJETÓRIA
A conquista do mundial de Emerson Fittipaldi de 40 anos atrás
marcou o início de uma sucessão de títulos conquistados por
brasileiros.
Hoje, ele pilota uma empresa de marketing esportivo

Emerson Fittipaldi costuma repetir que o homem, como a bicicleta, jamais deve parar se não quiser cair. Esse paulista, que há exatos 40 anos inaugurou a lista dos brasileiros campeões mundiais de Fórmula 1, gosta de estar na ativa no automobilismo, nem que seja dormindo. Segundo ele, 90% de seus sonhos são sobre carros de corrida. Foi assim na noite anterior à entrevista à ISTOÉ, diretamente de Lisboa, onde o ex-piloto foi homenageado pelo título mundial conquistado em 1972. “Eu corria de off road numa pista de terra, terreno sobre o qual ainda não competi”, conta. Fittipaldi abriu caminho nas pistas para outros pilotos, como Nelson Piquet e Ayrton Senna, ambos campeões mundiais, e transformou o automobilismo em uma paixão nacional. Hoje, aos 65 anos, viaja pelo mundo acompanhando as provas de F-1 e tem uma empresa de marketing esportivo.

O inquieto Fittipaldi é ás em dar vida a seus sonhos. Foi assim nos anos 1960, quando decidiu correr na Inglaterra. Seu pai não tinha condições de patrociná-lo, e ele passou a se autopatrocinar quando seu irmão trouxe da Europa um volante de F-1 de alumínio revestido de borracha e couro. “Vi aquilo e achei bacana. Comprei alumínio, borracha e couro. E fui ao sapateiro, que me ensinou a costurar”, conta. “Fiz um volante sozinho e o coloquei no carro da minha mãe. O pessoal gostou, fiz dois, três e, quando vi, eu tinha uma fabricazinha de volantes com 15 anos.” E assim o dinheiro foi surgindo.

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Emmo, um dos apelidos de Fittipaldi, estreou no automobilismo europeu, em 1969. Vivia em Londres e ainda realizava polimento de cabeçote de carros de passeio na oficina de um mecânico que, em contrapartida, preparava o motor de seu carro de corrida, um Fórmula Ford pelo qual pagou R$ 36 mil graças à venda de três automóveis. “Eu morava no quarto de uma pensão estilo bed and breakfast. Pagava 110 libras (R$ 360) por semana”, diz. “Nada foi fácil para mim. Hoje, o automobilismo é mais patrocínio e menos talento. É ingrato isso.” Três anos depois de desembarcar no berço da principal categoria do automobilismo mundial, ele se tornava o mais jovem campeão da história da F-1, aos 25 anos, um recorde que durou mais de 30 anos e foi superado pelo espanhol Fernando Alonso em 2005.

“Aquele título foi o momento de maior satisfação pessoal. Eu falava com o carro, a Lotus John Player Special, e ele conversava comigo. Parecíamos um corpo só”, lembra-se. Jornalista especializado em automobilismo, Reginaldo Leme recorda o que Nelson Piquet, tricampeão da F-1, certa vez lhe disse sobre o pioneirismo de Fittipaldi: “Não tinha outra pessoa mais adequada para ser o primeiro a triunfar na F-1 do que o Emerson.” Emmo se tornou realidade em uma época em que a F-1 era um dos esportes que mais matava atletas no mundo. “Enquanto competi, perdi 35 colegas em acidentes”, frisa. No início dos anos 1970, os bólidos eram como uma bomba-relógio: uma batida mais forte e o tanque de gasolina literalmente explodia. Atualmente, são uma espécie de tanque de guerra, tamanha é a proteção que conferem aos pilotos.

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Não há mortes em grandes prêmios desde o acidente fatal de Senna, em 1994. Por outro lado, o número de acidentes é muito maior do que na época do brasileiro. Isso ocorre porque a diminuição drástica de falecimentos após uma colisão tem conferido maior coragem aos competidores. “Na minha época, havia mais companheirismo entre os pilotos porque sabíamos do risco de morrer”, diz. Transferir a evolução da segurança da F-1 para ruas e avenidas do Brasil é o sonho atual de Fittipaldi, que se aposentou das pistas em 1996. Ele será o porta-voz de uma campanha de segurança de trânsito que o governo federal irá lançar ainda este ano. A meta é reduzir o número de acidentes fatais pela metade até 2020 – no ano passado, morreram 48 mil pessoas nas ruas e estradas do País.

Emmo ainda é conselheiro do neto Pietro, 16 anos, que corre em uma categoria de acesso da Nascar, nos Estados Unidos, país onde o brasileiro fez carreira de sucesso na Fórmula Indy, nos anos 1980 e 1990, e também pavimentou o caminho de outros brasileiros como Helio Castro Neves e Tony Kanaan. “Faltam no Brasil categorias de acesso, desde o kart, de baixo custo, para dar chances iguais a muito mais jovens pilotos”, opina Fittipaldi, que foi campeão da Indy, em 1989, e venceu duas vezes a tradicional 500 milhas de Indianápolis. Quando era bicampeão mundial de F-1, Fittipaldi fez a sua parte em prol da evolução do automobilismo nacional ao criar, junto com o irmão, a escuderia Copersucar, que competiu na categoria entre 1975 e 1980. Sua ideia era proporcionar uma plataforma na F1 para pilotos brasileiros. “O legado da Copersucar foi o fato de mostrar que o brasileiro tem capacidade, não pode se achar inferior e deve correr atrás de seus sonhos.” Exatamente como faz Fittipaldi, até quando está dormindo.  

Fotos: David Ashdown/Keystone/Getty Images; Marco Ankosqui; ANDRE LESSA/AE
Fotos: divulgação


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