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INCLUSÃO SOCIAL
Avenida Paulista nos anos 1970 e atualmente: um dos símbolos da pujança 
do Brasil, que se tornou um País majoritariamente de classe média

O Brasil de 2012 pouco lembra o de 1972. No auge dos anos de chumbo, democracia era uma palavra existente apenas nos sonhos da esquerda, a diminuta sociedade de consumo se contentava em comprar só produtos nacionais e o divórcio existia somente nos dicionários. Nos últimos anos, elegemos um sociólogo, um metalúrgico e uma ex-guerrilheira para a presidência, os importados invadiram as prateleiras e o fim do casamento deixou de ser tabu. Nesse período, a população também se tornou mais velha, mais alfabetizada e menos religiosa. O País evoluiu rumo a padrões semelhantes ao de nações desenvolvidas, com menos desigualdade e uma classe média grande e pujante.

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A maior mudança das últimas décadas ocorreu no perfil etário nacional. Éramos um País de jovens, agora caminhamos para ser um País de idosos. As crianças e adolescentes com idade inferior a 14 anos representavam cerca de 40% da população em 1970 e hoje são 24%. “A redução de pessoas em idade escolar significa uma enorme estrutura de ensino e um bom quadro de professores para menos alunos. Facilita, por exemplo, a abertura de turnos integrais”, afirma o demógrafo Frederico Luiz Barbosa de Melo, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Isso ajuda a explicar o substancial aumento da alfabetização. Hoje, 91% dos brasileiros com mais de 10 anos sabem ler e escrever, contra 66% 40 anos atrás. Apesar de a qualidade do ensino público deixar a desejar, a simples existência da estrutura escolar tem impacto positivo por vários anos. Além disso, como as famílias têm cada vez menos filhos, há mais recursos para investir na educação de cada criança.

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O rápido envelhecimento populacional, porém, é um desafio. A expectativa de vida saltou de 53,4 para 73,4 anos em quatro décadas. As pessoas com mais de 60 anos atualmente são 12% da população e em 2050 representarão 30% do total. O efeito mais evidente dessa tendência é o aumento da pressão sobre a Previdência Social, que precisa oferecer benefícios como aposentadoria a uma quantidade cada vez maior de pessoas enquanto diminuem os contribuintes em idade economicamente ativa. “As soluções podem ir do aumento das exigências para receber os benefícios à diversificação das fontes para conseguir os recursos”, explica o demógrafo Melo. O sistema de saúde também sofrerá impactos. “O Brasil conseguiu combater as doenças infantis, mas agora a questão é oferecer tratamento às doenças da velhice, como males do coração, e isso é muito mais difícil e mais caro”, diz ele .

A intensa urbanização de áreas remotas do País é outra marca das últimas décadas. Em termos gerais, a população urbana saltou de 70% para 84% do total. Porém, em regiões historicamente menos desenvolvidas no Norte e no Nordeste a transformação foi expressiva e rápida. O Acre, por exemplo, contava com menos de 30% de seus habitantes em cidades em 1970. Hoje a situação se inverteu e 73% dos acrianos vivem em núcleos urbanos.

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Também houve uma acelerada alteração no perfil religioso nacional. O número de católicos, que levou 100 anos para cair de 99% da população, em 1872, para 92%, em 1970, sofreu uma queda brusca em apenas quatro décadas. Segundo o Censo 2010 divulgado este ano, atualmente 64% das pessoas dizem seguir a Igreja de Roma no País. “Se essa tendência for mantida, em 2030 os católicos serão menos da metade dos brasileiros”, diz José Eustáquio Diniz Alves, professor titular do mestrado em estudos populacionais e pesquisas sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence/IBGE). Esse rebanho, em sua maioria, deixou de ter religião ou se tornou evangélico. “As igrejas evangélicas criaram estruturas para atender as periferias das grandes cidades e ainda conseguiram ‘customizar’ a fé, criando igrejas para homossexuais ou para surfistas, por exemplo”, explica ele.

De todas as transformações, porém, nada tem sido mais comemorado do que a ascensão econômica do brasileiro. Nos anos que se seguiram a 1970, as pessoas ainda estavam chegando do campo, saindo de lugares sem energia e sem água para as cidades. Eram ajudados por comunidades da Igreja e outras associações. Nos anos 1980, houve uma recessão tão forte que essa época ficou conhecida como a “década perdida”. Apenas nos anos 1990, quando a inflação foi domada pelo Plano Real, o Brasil reencontrou o eixo para o crescimento da economia. Os últimos dez anos foram marcados pela inclusão social. Mais de 30 milhões de pessoas subiram para as classes A, B e C – e, desse contingente, 20 milhões saíram da pobreza. Agora, 53% da população são de classe média. O Brasil de 2012 é mais democrático, mais justo e mais rico.  

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Fotos: arquivo Folhapress; divulgação
Fotos: Arquivo/Ag. O Globo; Masao Goto Filho/ag. Isto É