Há algo muito estranho com os homens. Eles querem se casar! Escrevem livros românticos abraçando a estabilidade conjugal. Assumem publicamente suas paixões e compreendem que a mulher priorize sua vida profissional. Não se incomodam em ganhar menos que as companheiras e – oh! – podem abrir mão da própria carreira para ficar em casa com os filhos enquanto a executiva do casal sua o tailleur para botar comida na mesa.

Há duas semanas fui mediadora de um painel sobre jovens talentos femininos. Foi num seminário internacional de mulheres executivas, na França. Todas as quatro debatedoras, de quatro cantos diferentes do mundo, tinham menos de 40 anos. Duas delas menos de 30! E todas muito bem-sucedidas naquilo que escolheram fazer. Apenas duas eram casadas. E só uma tinha um filho. Eu tentei fazer as perguntas de praxe: em quem você se inspirou, se foi beneficiada por algum programa de mentoria para mulheres. Aquilo não fazia sentido para elas. As respostas foram inconclusivas e distintas. Para mim ficou claro que nenhuma daquelas profissionais sofreu preconceito dos homens para chegar lá! Elas foram reconhecidas pelas corporações e pelo mercado como boas profissionais e pronto! Saí de lá pensando se elas têm ideia do que significa a expressão teto de vidro. Ou se ele é um fenômeno geracional!

Ok, você vai me dizer que, no Brasil, esse é um movimento incipiente. E que a maior parte dos fatos acima faz parte das realidades europeia ou americana. Você não está errado. Mas a tendência está aí. Basta dar uma olhadinha nos números. Hoje, 32,2% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. Há dez anos eram apenas 22%. E 36,4% dos casais não oficializaram a união. A mulher deixou de fazer questão desse detalhe. A renda das brasileiras subiu 66% na comparação de 2002 com 2012. E, com dinheiro na mão, elas são as principais decisoras de consumo no País.

E ainda que deixemos as pesquisas de lado! Você não conhece um casal em que a mulher investe na carreira enquanto o marido fica em casa? E ainda cozinha? A novidade é: os homens – os que trabalham e os que não trabalham, mas, em geral, os mais jovens – me parecem bastante satisfeitos com esse arranjo. Eles admiram suas mulheres, suas colegas de trabalho, suas amigas e não consideram a possibilidade de que elas não façam suas próprias escolhas. Profissionais, inclusive.

Quem me convidou para conduzir aquele painel de mulheres na França foi a Renault-Nissan do Brasil. Lá, conversei muito com as colaboradoras da empresa, e com o presidente no Brasil, Olivier Murguet, sobre o universo feminino do trabalho, diferente, sim, no Brasil e na Europa. Mas me surpeendeu ver que uma empresa de um setor tradicionalmente masculino, como o automotivo, participa ativamente de um seminário sobre os dramas femininos no trabalho! E está atenta à carreira de suas funcionárias!

Sim, meus caros, a moda está pegando. A coisa toda é uma verdade capaz de fazer estremecer as mais aguerridas feministas. A igualdade de papéis chegou sem alarde. Nós, mulheres, mal nos demos conta. E eles estão adorando.

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Ana Paula Padrão é jornalista e apresentadora


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