A pílula que durante décadas embalou jovens em clubs e raves já não é
mais a mesma. Estudos mostram
que atualmente o que se vende
como ecstasy costuma ser uma
mistura de compostos químicos que, muitas vezes, possuem de tudo, menos
a tal 3,4 metilenodioximetanfetamina (MDMA), princípio ativo da droga. Sintetizada em 1914 por uma
indústria farmacêutica alemã
como suposto inibidor de apetite,
a substância foi considerada ilegal
nos anos 80. De lá para cá, diferentes derivados de anfetamina e outros estimulantes foram roubando o espaço da MDMA na composição dos comprimidos de ecstasy. Resultado: usuários da droga agora começam a investir no consumo de MDMA pura. Trata-se de um pó branco e cristalino que pode ser inalado, ingerido, diluído em água, ou ainda tomado em forma de cápsula. E que, supostamente, proporciona a “verdadeira sensação de êxtase”.

A publicitária Lúcia (nome fictício), 32 anos, experimentou o primeiro ecstasy há 13, na Espanha. Insatisfeita com o que vinha consumindo, ela decidiu provar a MDMA pura. “É sensacional. Provoca bem-estar e clareza mental como as primeiras pílulas que experimentei”, conta. “Atualmente você compra um ‘E’ e se sente como se tivesse tomado uma xícara de café”, diz ela. A comparação de Lúcia, segundo o médico Ovandir Silva, diretor científico da toxicologia do laboratório Maxilab, tem razão de ser. Em 1997, Silva coordenou, na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, um estudo com comprimidos de sete lotes de ecstasy apreendidos por órgãos de segurança pública.

A análise das pílulas revelou que, em um dos lotes apreendidos, o que era vendido como ecstasy não passava de cafeína. Outra pílula analisada continha MDEA, espécie de prima da anfetamina com efeitos e riscos mais brandos que a MDMA (leia quadro). Os outros cinco lotes eram de misturas que continham MDMA. Concluído o estudo, Silva não desistiu da causa. Durante dois anos, continuou analisando pilulas de ecstasy que chegavam ao seu consultório. “Muitos psiquiatras e psicoterapeutas descreviam reações estranhas de pacientes que tinham usado ecstasy e me pediam para estudar os comprimidos”, conta Silva. Nessa análise o médico observou que os considerados “melhores Es” pelos usuários continham metanfetamina e não MDMA. “Tomar um ecstasy é perigoso. Mas ingerir um comprido com ‘sabe-se lá o que’ é muito mais”, afirma.