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COMEMORAÇÃO 
Duda Mendonça festejou o resultado favorável no julgamento
do STF no restaurante Boi Preto, em Salvador

Até o dia 11 de agosto de 2005, Duda Mendonça era conhecido como o publicitário que conseguiu transformar a imagem de sindicalista raivoso de Luiz Inácio Lula da Silva em líder popular carismático, o “Lulinha paz e amor”. Mas assim que decidiu ocupar, espontaneamente, a cadeira de depoente na CPI dos Correios e contar os artifícios usados pelo PT para pagar por seu trabalho na corrida presidencial de 2002, ele passou por um calvário particular. Embora tenha sido absolvido pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), na última semana, o publicitário amargou uma silenciosa pena de quase oito anos. Viu minguarem seus negócios e a força de seu nome no mundo da propaganda. Os números são reveladores desse declínio. Em 2004, Duda chegou a faturar R$ 63 milhões em contratos com a União. Neste ano, os repasses do governo federal para sua agência não ultrapassaram a casa dos R$ 90 mil. Desde a crise, a então poderosa agência Duda Propaganda sofreu outras baixas significativas. Em 2009, fechou um dos escritórios do Rio de Janeiro. Já a filial de São Paulo chegou a operar no vermelho.

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Com o nome manchado pelo escândalo do mensalão, a indisponibilidade dos bens, determinada pela Justiça, prejudicou ainda mais os negócios. Desde 2006, cada passo gerencial da agência só ocorre com o aval do Supremo. No ano passado, para alterar o quadro societário da firma, Duda teve que solicitar a autorização do ministro relator do mensalão, Joaquim Barbosa. A distribuição dos lucros entre os sócios da agência também passou a ser analisada com lupa pela corte. Para sobreviver à nova realidade que se impôs a partir do escândalo, e conseguir lucrar na área de publicidade e marketing, Duda teve de alterar geograficamente seu foco de atuação. Notando que no Sudeste os candidatos evitavam seus serviços – por temer que os adversários levassem o mensalão para as campanhas –, Duda resolveu trabalhar somente para políticos da região Nordeste. No Maranhão e na Paraíba, comandou duas campanhas vitoriosas. A dos governadores Roseana Sarney (PMDB) e Ricardo Coutinho (PSB). Mas, em vez de exibirem o publicitário como grife na corrida eleitoral, como os candidatos faziam antes de o nome de Duda engrossar a lista de réus do mensalão, limitaram seu trabalho aos bastidores, evitando aparições públicas ao seu lado. Nas eleições deste ano, o profissional que era chamado de “publicitário fazedor de milagres” teve que investir no varejo das campanhas municipais, fazendo consultorias. Ele ajudou seu amigo Fábio Câmara (PMDB) a conquistar uma cadeira na Câmara de Vereadores de São Luís (MA). Ainda atua na campanha do candidato petista Elmano Freitas, que disputa o segundo turno da eleição à Prefeitura de Fortaleza. Mas ficou nisso.

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Recentemente, Duda abriu uma filial da agência no Maranhão, em busca do que tem chamado de “processo de reconquistar seu lugar”. O publicitário reclama que recebeu algumas portas na cara durante os sete anos em que se desenrolaram as investigações, a denúncia do Ministério Público e o julgamento do Supremo. “As pessoas diziam que eu era um cara competente, mas queriam esperar”, disse a um jornal de Salvador. Para fugir do estigma, Duda decidiu tentar voos fora do País. Abriu até uma agência em Varsóvia, capital da Polônia, a “Duda Ads Polska”. Na última semana, embora aliviado pelo veredicto do Supremo, Duda não quis comemorar publicamente. Em entrevista disse apenas que “esperava por isso há muito tempo”. “A justiça se fez. A família está muito aliviada, pois passou esses anos muito apreensiva.” Para justificar uma festa marcada para este fim de semana em sua casa na Bahia, ele alegou que será a celebração do aniversário de sua sócia Zilmar Fernandes. “Agora é a hora de arrumar tudo e pensar no que fazer. Espero reconquistar o meu lugar”, afirmou.

Mas a dor de cabeça do publicitário com a Justiça ainda poderá ter desdobramentos em outras instâncias. Nos próximos dias, a 20ª Vara de Justiça do Distrito Federal dará sentença em processo que acusa o publicitário de irregularidades em contrato com a Secretaria de Comunicação da Presidência e determina a devolução de R$ 700 mil aos cofres públicos. De acordo com a ação, a empresa de Duda teria sido paga sem prestar serviço direto, subcontratando outras agências de publicidade. O calvário do antigo marqueteiro do PT parece mesmo não ter fim. 

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